segunda-feira, 14 de setembro de 2020

MENINAS DE TRINTA: A LOUCA VIDA (NEM TÃO DIFERENTE) DE MULHERES BALZAQUIANAS DO SÉCULO XXI, Roberta de Souza

"Sem generalizar, mas a maioria que só vê a casca, normalmente é oquinho... Você quase ouve o eco da mente deles."


Editora: Muiraquitã | Páginas: 90 | Ano: 2013 | 1ª Edição | Crônicas; Comédia; Romance

Meninas de Trinta foi escrito pela autora Roberta de Souza e traz diversas crônicas girando em torno da vida de Nina, uma mulher que acabou de completar os seus trinta anos, mas dentro de si ainda encontra a energia da juventude, desmistificando a ideia de que chegar aos 30 é sinônimo de envelhecer.

"Sempre imaginei que quando chegasse aos 30 anos eu seria uma pessoa séria, mega compenetrada, com filhos, cheia de responsabilidades, do tipo adulta com A maiúsculo. Pelo menos era assim que via as mulheres desta idade quando eu tinha quinze. Sempre pensei várias coisas a este respeito. Mas acho que não sou assim, pelo menos não completamente. Sei lá, talvez alguém me veja assim, tipo meus pequenos sobrinhos..."

Nina narra a sua história com um bom humor invejável, entre o divórcio e as novas descobertas, a personagem conta acontecimentos diversos da sua vida, trazendo reflexões em torno do mundo feminino que, mesmo sem a pretensão de ser feminista, quebram padrões impostos que não fazem parte da nossa verdadeira essência. Não bastasse o humor de Nina, nos deparamos com A Doida, uma voz que fala em sua cabeça, confrontando-a diante de diversas situações vivenciadas pela personagem e agregando tiradas engraçadíssimas à narrativa.
 
"Ninguém merece um Galvão Bueno do sexo, né? Aff! Ainda tive que aguentar a Doida rindo e berrando na minha mente: Vai que é tuuuua Ninaaaaa!"

Como uma mulher fora da casa dos trinta, posso dizer que a obra de Roberta dialoga com todas nós, mulheres, e não somente as Balzaquianas. É muito fácil se encontrar entre as páginas da história construída pela escritora, tanto em sua personagem principal quanto em personagens secundários como suas amigas, por exemplo. 

O livro é um bálsamo para aprendermos a rir de nós mesmas, procurar ajuda e apoio quando for necessário e estarmos sempre abertas às novas possibilidades da vida, que podem ser lindas e arriscadas, mas que só saberemos quando vivenciarmos. 


Adquira o livro em: Amazon. Também disponível pelo KinldeUnlimited.

Conheça a autora:

Roberta de Souza é moradora de Maricá, natural de Niterói, cidade que ama de paixão! Roberta é jornalista, assessora de imprensa responsável pela Gaia Comunicação, fotógrafa, escritora e mãe. 

Trabalha no mercado editorial há quase 20 anos como Ghost Write, Copy e avaliadora de obras literárias. 

Publicou o livro "Meninas de 30" (2013), a biografia de espírita "Morgana da Figueira" (2015) e seu livro de poemas, o “Cavador do Infinito” em 2020. Participou e coorganizou diversas antologias “O Perfume da Palavra” sob o selo da Editora Muiraquitã. É criadora do site Balzaqueando. É membro do coletivo de escritores de Maricá chamado “Povo do Livro” E é voluntária do Grupo Itaipuaçu Solidário. 

Você encontra a Roberta no Instagram: @escritora_roberta.de.souza


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

TETO PARA DOIS, Beth O’leary

"Fiquei sentada por um tempo no corredor, olhando para a bagunça multicolorida formada pelos meus pertences favoritos, que estavam empilhados no armário sob a escada, e senti, por um instante estranho, que, se as almofadas podiam voltar a respirar, eu também conseguiria."

Editora: Intrínseca | Páginas: 400 | Ano: 2019 | 1ª Edição | Comédia Romântica

Há algumas semanas tenho visto resenhas sobre Teto para Dois e todas as avaliações que vi sobre ele me fizeram acreditar que eu não poderia deixar de lê-lo esse ano. Apesar disso, eu não estou numa vibe de romances e dei uma enrolada para começar a leitura e estou impressionada por ter amado tanto a obra de Beth O'leary.

"Não me lembro do nosso relacionamento ser assim. Mas agora acho que meio que... pintei tudo de cor-de-rosa? Esqueci as partes ruins? Não sei, isso é possível?"

Alternando a narração entre os dois protagonistas, o livro apresenta o leitor à Tiffy, uma assistente de edição em uma Editora de livros no mais puro estilo DIY (do it yourself/faça você mesmo). Ela acabou de sair de um relacionamento conturbado, precisa encontrar um lugar para morar por um valor baixo e é assim que chega até Leon. A personagem surpreende com uma personalidade extrovertida e iluminada que reflete em seu modo de vestir um tanto exótico. Leon é um enfermeiro que precisa aumentar a sua renda para pagar o advogado que acompanha o caso de seu irmão, preso injustamente. A necessidade financeira o leva a sublocar o seu apartamento, no qual só passa os dias, para alguém que só o utilize à noite. 
Acordo fechado, Tiffy se muda para o apartamento de Leon por intermédio da namorada dele e não demora muito para que comecem a se corresponder via bilhetes espalhados pelos cômodos, criando uma amizade, mesmo que nunca tenham visto um ao outro. 
Nesse caminho imprevisível, Tiffy trava sua batalha particular para compreender que vivera um relacionamento abusivo e se livrar dele (e dos traumas deixados) de uma vez por todas. Leon também está em sua busca pessoal focada em colocar o seu irmão, Richie, em liberdade e o papel de Tiffy nessa busca os aproximará ainda mais do que se imagina, além de outros fatores no desenrolar da história. 

"Ser amável é uma coisa boa. Você pode ser forte e amável. Você não precisa ser uma coisa ou a outra."

Quero deixar claro que todas as expectativas que criei sobre o livro estavam completamente erradas. Eu esperava que o fosse, de fato, uma comédia romântica e, apesar de ser muito divertido, a obra tem uma profundidade muito maior do que o puro romance, abordando um importantíssimo tema que é o Relacionamento Abusivo. O curioso é que focamos tanto nas questões de relacionamento de Tiffy, mas o livro apresenta a relação tóxica de diversas formas. Está muito presente na mãe de Leon (bem explícito, até em algumas de suas falas) e também no namoro do próprio.

"Kay: Tudo bem. A gente se fala mais tarde. Você pode me avisar que trem vai pegar? 
Não gosto disso — a cobrança, as mensagens sobre trens, sempre saber aonde estou indo. Mas... estou sendo bobo. Não posso reclamar. Kay já acha que tenho medo de compromisso. É sua expressão favorita no momento."

Teto para Dois constrói os personagens de maneira tão sólida que é fácil visualizá-los como pessoas reais. Os dramas de Tiffy e a situação de Leon são tão compreensíveis que é muito natural se conectar. Os pensamentos de Tiffy em relação ao ex namorado podem parecer repetitivos, no entanto, são muito relevantes dentro do contexto de uma pessoa que foi manipulada por outra durante tanto tempo (e pode ter certeza que o ódio que eu criei pelo Justin também é bastante real). Leon é um personagem muito cativante, mesmo com a sua personalidade introvertida. Suas atitudes e falas são tão certeiras que marquei várias partes do livro em que ele demonstrava uma sensatez muito diferente do que muitos personagens masculinos têm apresentado na literatura. Os personagens secundários não deixam de ser interessantes e eu precisaria de mais um post inteiro para falar sobre o quanto eles são importantes para o desenvolvimento dos protagonistas. O'leary me conquistou com sua escrita fluida e narrativa completa e divertida - ainda que trate de assuntos tão sérios. 

Com certeza está entre as minhas leituras favoritas desse ano!!!

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O DIÁRIO DE ANNE FRANK, Anne Frank

"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração! Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias."













Editora: Principis | Páginas: 224 | Ano: 2020 | 6ª Edição | Biografia

   Quantas e mais quantas resenhas foram escritas sobre Anne Frank ao longo dos anos? Não é difícil de se justificar a curiosidade e a empatia despertada por uma garota judia de 13 anos mostrando a sua visão crua do Holocausto e a maneira como isso afetou a sua vida. Eu não sou uma leitora de biografias e esse ano quis incluir livros do gênero em minhas leituras, por que não começar com uma que está constantemente na lista dos mais vendidos?

  Anne Frank nasceu na Alemanha e se mudou para a Holanda com sua família que buscava se afastar da perseguição de Hitler que começara a difundir seus ideais e iniciara uma Guerra que viria a se tornar uma missão de extermínio. Sua vida na Holanda era confortável, mas, pouco a pouco, Anne via sua liberdade ser tomada. Não podiam frequentar qualquer loja e até mesmo o acesso à educação lhe foi restrito, podendo frequentar apenas a escola judaica. Conforme a situação piora, a Otto Frank, pai de Anne, decide que eles estariam mais seguros em um esconderijo, o que os leva ao Anexo da empresa da qual Otto era sócio e é lá que eles passam a viver ao lado da família Van Daan¹.
Ao todo, oito pessoas viviam no Anexo. O casal Frank e suas filhas Anne e Margot, o casal Van Daan e seu filho Peter e um dentista conhecido das famílias, que foi acolhido por eles ainda no primeiro ano de cativeiro. 


"Saia e tente recapturar a felicidade que há dentro de você; pense na beleza que há em você e em tudo ao seu redor, e seja feliz."

   Observamos todo o desenrolar através de sua escrita em um diário que ganhara pouco antes de ser privada de sua liberdade. Nele, Anne expõe desde coisas banais do cotidiano aos seus pensamentos e sentimentos mais profundos, mesmo aqueles dos quais ela se envergonha. Também é, através de suas palavras, que podemos ter uma visão de como era estar na situação de medo constante, miséria e sentimento de injustiça em que se encontravam os fugitivos das ideologias absurdas do Nazismo.

"Eu simplesmente não posso construir as minhas esperanças baseadas em confusão, miséria e morte. Eu penso que a paz e a tranquilidade irão voltar de novo."

  Muitas das passagens descritas por ela são em torno do seu relacionamento difícil com a mãe, com quem não se identificava muito e entrava em constante conflito. Também é muito fácil conhecer os outros moradores do Anexo, os quais ela descreve com frequência, falando sobre suas atitudes, formas de pensar, brigas e reconciliações. Também podemos ver um pouco sobre as pessoas que os ajudaram durante os dois anos reclusos e é doloroso perceber que se encontraram naquela situação por pura ignorância e maldade humana.

    Anne Frank tem uma escrita incrível e percebe-se o quanto se dedicava ao ato de escrever. É uma inspiração para qualquer um que sonhe em se tornar um escritor ou mesmo alguém que simpatize com o mesmo amor que ela tinha pelas palavras postas em papel. Cada momento em que ela descrevia suas esperanças e planos para o futuro me enchia de angústia por saber o final dessa história que, infelizmente, não poderia ser modificado por frases escritas em um livro. É lindo o quanto uma adolescente me inspirou a querer ser melhor do que sou hoje. 

"Não é incrível que ninguém precise esperar o momento certo para começar a melhorar o mundo?"

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¹Van Daan sob pseudônimo para representar a família Van Pel