quarta-feira, 18 de novembro de 2020

PÓSTUMO, Leandro Zapata

Escrito por Leandro Zapata, Póstumo conta a história de Leonard Ross, um rapaz comum que acaba perdendo sua vida durante um assalto após fazer um acordo com a Morte para salvar sua amada Elena daquele mesmo destino. Por que a Morte faria esse tipo de acordo? Pelos próprios interesses. Após deixar seu corpo, Leonard precisa enfrentar o julgamento e descobrir se será capaz de ultrapassar os portões do paraíso para cumprir sua função no trato firmado. 


“Eu te amo muito. Não sei o que vai acontecer agora, de fato, nem sei se nada disso é real. Mas, se por acaso for, eu te prometo uma coisa: Se houver uma forma de voltar pra você, eu a encontrarei”

As primeiras páginas do livro são bastante movimentadas. Podemos conhecer um pouquinho do protagonista e da sua devoção por Elena. Dessa maneira, é muito compreensível que ele tome a decisão de salvar sua vida quando tem a escolha. Chega a ser agoniante observar um casal apaixonado se desmanchando por uma situação de violência e daí já percebemos que a vida - e a morte - de nenhum deles será a mesma depois da tragédia. É de se esperar que a vida de Elena siga seu caminho sem nenhuma interferência sobrenatural, porém, no enterro de Leonard, ela é surpreendida por um homem sombrio que a presenteia com uma estátua do deus egípcio Anúbis, que a permite ter visões de seu parceiro no pós vida. 

Falando em pós vida, Zapata constrói uma visão de Paraíso bastante curiosa. Leonard encontra um paraíso um pouco mais movimentado do que se poderia esperar e apesar de todas as semelhanças com a Terra, o próprio sente que há diferenças essenciais e a falta que sente de Elena o atormenta. Não bastasse toda a mudança pela qual está passando, há uma guerra em formação, marcada pelo retorno dos Filhos do Abismo que lutam contra os anjos pelo controle celestial. 

O livro é narrado a partir de alguns pontos de vista diferentes, nos dando uma visão ampla dos acontecimentos e os amarrando para uma construção da Guerra e do papel de Leonard nisso. O autor constrói personagens palpáveis, com sentimentos muito reais e em um processo de luto bastante verdadeiro. Fui felizmente surpreendida pela participação de Elena ao longo da narrativa e adorei que o escritor não teve medo de ousar em agregar deuses de diferentes panteões em sua história na construção de uma mitologia diversa e bastante fluida. Algumas pontas ficaram soltas, mas é o esperado, uma vez que se trata do primeiro livro de uma série. Aguardando ansiosamente pela leitura do próximo volume!

“A verdadeira morte é o esquecimento”

- Post em parceria com a Editora Djinn -

sábado, 14 de novembro de 2020

AS PROVAÇÕES DE APOLO: A TORRE DE NERO, Rick Riordan

Vou começar essa postagem dizendo que isso não tem a pretensão de ser uma resenha e que tem muita emoção envolvida sobre esse livro e tudo o que veio antes dele. 


   Para contextualizar, quero deixar bem claro que eu sou uma grande fã de Percy Jackson e que esse universo faz parte da minha vida há pouco mais de 10 anos. Mais do que fazer parte da minha vida, posso dizer que Percy Jackson e os Olimpianos é a razão pela qual eu posso dizer hoje que sou leitora. Antes da saga de Riordan, eu já havia lido vários livros e tinha gostado de conhecer histórias por meio da leitura, mas foi com o Acampamento Meio-sangue que eu me senti, pela primeira vez, transportada para dentro das páginas de um livro.

   Tive esse grande envolvimento pela primeira saga e a segunda também fluiu bem, mas quando cheguei em As Provações de Apolo, a terceira saga, senti que faltava alguma coisa, algo que eu não sabia explicar muito bem, mas que fazia a leitura ser muito menos fluida do que as anteriores... Até que eu entendi que o problema era o próprio Apolo hahaha. Ironicamente, com o avanço dos livros e enquanto Apolo se tornava menos Apolo e mais Lester, fui simpatizando mais com ele e os livros foram se tornando cada vez mais interessantes, explorando a questão dos Imperadores de uma maneira que chega a causar uma reflexão sobre o poder que damos as pessoas com a nossa "adoração". 

   Amei ver um pouco de personagens já conhecidos, mas também foi extremamente sensível todo o plot em torno da Meg e dos abusos psicológicos que sofria. Aliás, Apolo/Lester reflete muito sobre alguns tipos de abuso, principalmente os que ele mesmo cometeu ao longo de sua existência divina, o que eu acho que dá um tom um pouco mais responsável para uma literatura Infanto/Juvenil. Essa é uma das coisas que admiro em Rick, a facilidade em tratar de temas que precisam mesmo ser tratados sem tornar a narrativa carregada por essas tensões. 



     Apesar de ter começado a gostar dos anteriores, preciso dizer que A Torre de Nero é o meu favorito dessa saga. Talvez eu já estivesse repleta de toda uma nostalgia por saber que essa será a última dentro do universo de Percy Jackson, não vou negar, mas a história se desenrola de maneira tão mais fluida e os personagens fazem tão mais sentido agora, que cada página era como estar de volta ao Ladrão de Raios. Quero atentar para o fato dos livros trazerem representatividade em vários níveis e gostaria de ver mais dos personagens com limitações físicas que surgiram nesse volume. Além disso, a leitura é muito divertida, mesmo com toda a tensão em torno de Nero e Píton, e me peguei dando risadas em voz alta por diversas vezes. Rick caprichou nas referências e tratou todas aquelas coisas que nos encantaram antes com tanto carinho que eu consegui mais uma vez sentir aquela magia. 

    Depois desse grande fan service, o livro se encerra em despedida. Conseguimos ver os destinos de vários personagens queridos e foi ali que eu senti que era o adeus. Queria ser imparcial e fazer uma analise fria, porém, é impossível não me deixar levar por uma narrativa que fez parte da minha vida por tanto tempo e que foi concluída na madrugada à base de lanternas, como nos velhos tempos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

VOCÊ SABIA? AS CRÔNICAS DE NÁRNIA



Desde criança eu sou apaixonada pelo universo de Nárnia. Acho que o que me ganhou foi o visual maravilhoso dos filmes e, obviamente, todo o contexto de magia. Um pouco mais velha, adentrei na literatura de C.S Lewis, esse mundo fantástico me acompanhou até a faculdade e agora, no momento em que eu começo a me aventurar na minha própria escrita. Dito isso, imagina a minha surpresa ao descobrir, fuçando no youtube, uma versão de O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa lançada em 1988?


A versão foi produzida pela BBC e apresenta uma adaptação bastante fiel ao descrito pelo autor no primeiro volume da série de livros. Em formato de série, acompanhamos o descobrimento da terra de Nárnia pelos irmãos Pevensie. 

Apesar de ter me incomodado com algumas questões de caracterização e de que a narrativa ficava um tanto arrastada mostrando momentos de refeições e diálogos dispensáveis que não funcionam muito bem na versão televisionada, preciso considerar que foi uma adaptação realizada para um público completamente diferente do atual e sem a disposição de efeitos audiovisuais que temos hoje em dia (apesar dos castores em tamanho humano serem imperdoáveis haha).

É incrível como eu consegui me sentir nostálgica assistindo ao compilado de episódios, como se estivesse de volta a uma Nárnia que, na realidade, nunca vi. Talvez se deva ao fato de que muitos elementos visuais da adaptação recente estão também presentes na antiga.


Descobri com um pouco de Google que a BBC adaptou  O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Príncipe Caspian, A Viagem do Peregrino da Alvorada e A Cadeira de Prata, chegando a vencer um prêmio Emmy por programa infantil. Você pode conferir o primeiro no Youtube.



Além da de 1988, outras versões foram produzidas em 1967 e 1979, tendo, ainda, a obra sido levada para o rádio e também para o teatro. Mesmo com tantas adaptações diferentes, a série de Lewis nunca conseguiu consolidar uma sequência de seus sete livros. Nos resta esperar que a Netflix consiga, finalmente, nos presentear com a magia completa de Lewis na telinha. 

"Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um Narniano, mesmo que Nárnia não exista."

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

OS SETE MARIDOS DE EVELYN HUGO, Taylor Jenkins Reid

“Não é conveniente”, Harry continuou, “que num mundo onde os homens ditam as regras a coisa mais desprezada seja a que representa a maior ameaça? Imagine se todas as mulheres solteiras do planeta exigissem alguma coisa em troca de seus corpos. Vocês seriam as donas do mundo. Um exército de pessoas comuns."

Editora: Paralela | Páginas: 360 | Ano: 2019 | 1ª Edição | Ficção; Romance

Não sei se algum dia eu serei verdadeiramente capaz de descrever a experiência de ler Os Sete Maridos de Evelyn Hugo.

"Sei como é a sensação de não querer que seu próprio pai olhe muito para você, muito menos que acabe decidindo que te odeia e resolva te bater, ou que acabe concluindo que te ama um pouquinho mais do que deveria."

Evelyn Hugo é uma mulher latina que sai dos subúrbios de Nova York em busca do estrelato em Hollywood. Sua trajetória é narrada pela própria à jornalista Monique Grant, que se deixa levar pela oportunidade de escrever uma biografia que impulsionaria sua carreira, além da compensação financeira que a obra lhe traria. Sendo assim, desvendamos Evelyn enquanto ela revela todos os detalhes de sua vida para a jornalista, contando fatos que o público nunca imaginaria estarem por trás da fachada de atriz gloriosa que construíra pra si. 

A atriz relembra como se envolveu nos sete matrimônios e todas as implicações por trás de casamentos que talvez não fossem tão reais assim. Além disso, é possível explorar todos os aspectos sujos da fama, ilustrando que por trás de todo o glamour, a Hollywood dos anos  50, 60, 70 era muito mais construída de aparências do que de vidas reais (não que seja muito diferente hoje em dia). Em paralelo, conhecemos um pouco de Monique, que está se divorciando do marido e encontra em seu trabalho o refúgio para sair do navio naufragado que se tornou o seu casamento. 

“A gente pode lamentar algumas coisas sem necessariamente se arrepender delas”

A primeira coisa que eu preciso enaltecer sobre esse livro é que a escrita de Taylor é incrível. Apesar de não ser um suspense, ela consegue nos manter presos na narrativa, ansiosos por saber os próximos acontecimentos da vida de Evelyn. A autora utiliza de recursos como o uso de tempos diferentes na narrativa e trazer partes dos acontecimentos em formato de matérias de colunas de fofoca, o que trouxe um dinamismo agradável para as transições entre a narração de Evelyn e de Monique. 


Ainda que fascinante, a história de Evelyn a desenha como uma mulher obstinada e egoísta, capaz de fazer tudo o que for necessário para alcançar o sucesso que tanto almejava. Ela não tem medo de usar pessoas e até o próprio corpo para atingir os objetivos. Da mesma maneira, ela exibe um cinismo descarado, manipulando a todos em seu benefício, inclusive a própria imprensa. Apesar disso, ela também é apaixonante e esplendida. É impossível não se solidarizar com certos acontecimentos de sua vida e compreender que ela não é uma pessoa ruim de todo,  e sim fruto das circunstâncias. 
 
Jenkins não tem medo de trazer temas pesados para a narrativa e nos deparamos com uma caminhada repleta de abusos de poder, moral e até sexual. Violência doméstica e preconceito de gênero também são temas constantes nas páginas de Evelyn Hugo e a questão do preconceito com a comunidade LGBTQIA+ é abordada por toda a narrativa, dando uma ênfase à bissexualidade, que é, até hoje, alvo de ataques até mesmo dentro da própria comunidade. 

"Não ignore metade do que eu sou só para colocar um rótulo em mim"

A história é muito bem construída e a autora consegue fazer todos os personagens serem interessantes e relevantes. Nenhum está ali sem motivo, mas é difícil que brilhem diante de Evelyn Hugo que, assim como em seus filmes, toma toda a atenção para si no momento em que aparece. Uma personalidade dotada de uma complexidade absurda, tão intensa que é difícil acreditar que se trata apenas de um personagem e não de alguém que de fato existiu. Diante disso, os dramas de Monique perdem significado na leitura. É difícil prestar atenção no que ocorre nos momentos concentrados em sua vida pessoal quando tudo o que queremos é saber os próximos acontecimentos por meio de Evelyn.

Duvido que um dia serei capaz de exaltar essa obra da maneira que ela merece. Taylor Jenkins Reid merece todos os aplausos possíveis pela capacidade de criar um conteúdo tão relevante, que levante tantos pontos importantes de reflexão quanto Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e que mantém o leitor vidrado do início ao fim. Torço para que o título ganhe as telonas porque minha maior decepção é saber que não posso dar um Google agora mesmo e ver a espetacular e polêmica Evelyn em ação. 

"Eles são só maridos. A Evelyn Hugo sou eu."