O Fenômeno de Arrebatamento Literário em tempos de Internet
Se você tem entre 12 e 25 anos, é muito provável que já tenha ouvido alguém dizer que é Potterhead ou Semideus. É ainda mais provável que você já tenha dito isso ou algo semelhante. Entre 2011 e 2015 era muito comum encontrar jovens compartilhando suas leituras em seus perfis na internet. Era rotina ver adolescentes com suas edições de Harry Potter (J.K Rowling) e Percy Jackson (Rick Riordan) pelos cantos das escolas ou no transporte público. É considerável que as Grandes Sagas tem um atrativo, nem sempre bem explicado, mas que se pode sentir. Compreendo esse envolvimento como uma sensação de pertencimento, a qual eu costumo chamar de Arrebatamento Literário.
Trecho de edição Ilustrada de "Harry Potter e a Pedra Filosofal"
Não seria pretensioso dizer que Harry Potter abriu as portas para a Literatura a essa geração, muitas vezes chamada, pelos leitores, de Geração Harry Potter. J.K Rowling construiu um universo tão imensamente mágico que é fácil encontrar pessoas que leram a saga toda em uma semana, imergindo completamente em seu mundo fantástico. Não é diferente no que se refere a Percy Jackson, saga que embarcou na fórmula utilizada por Rowling e ganhou proporções gigantescas conforme os lançamentos de novos volumes.
Livro "Percy Jackson e os Arquivos do Semideus"
A grande diferença entre as duas sagas pode ser observada em seu sucesso no cinema. Harry Potter conquistou público no cinema quase tanto quanto na literatura e esse público logo migrou para os livros. Esse imenso sucesso fez com que, em determinado momento, a autora chegasse a alcançar o posto de segundo livro mais lido no mundo, ficando atrás, apenas, da Bíblia. Já a saga de Riordan, causou uma imensa decepção nos fãs, que não encontraram nos filmes produzidos a mesma conexão que tiveram com os livros - resultado de produções tão infiéis aos livros que muitos se recusam a enxergar como uma adaptação. Apesar disso, Percy Jackson continua crescendo, expandindo sua saga inicial para outros títulos.
O formato de série literária logo ganhou outros autores e temas e a popularidade foi tão crescente que houve um resgate de séries antigas desconhecidas pelas novas gerações. Não demorou para presenciarmos o surgimento de Jogos Vorazes, Crepúsculo, A Seleção e muitos outros que conquistaram seu público. A grande divulgação na internet tornou perceptível que os jovens se interessam por esse tipo de leitura e em certo momento, passava a sensação de que todos estávamos lendo as mesmas coisas e é disso que se trata o Arrebatamento Literário: Não só estávamos lendo os mesmos livros e assistindo os mesmos filmes, também formamos grupos para debater e teorizar em torno dessas obras. Logo estávamos tão conectados que saímos das páginas e das telas para tornar o contato real. Quantos registros de capturas à bandeira e encontros de bruxos podemos encontrar em uma rápida busca no Google? Esse vínculo e conexão só foi possível pela imersão combinada de leitura, internet e encontros.
"- Vai ser muito diferente no próximo verão - disse eu. - Quíron espera que tenhamos o dobro de campistas. - É - concordou Grover -, mas este continuará sendo o lugar de sempre."
Depois de concluir The Good Place me senti muito órfã de uma série que apresentasse um formato tão agradável de ser assistida. I'm Not Okay With This não preenche completamente esse espaço, pois traz um drama muito maior do que o que vemos em The Good Place (que tem um tom mais leve e divertido nas primeiras temporadas). Entretanto, posso afirmar que a nova produção do streaming tem lá o seu magnetismo. Preciso admitir que tenho certa satisfação em assistir séries com episódios curtos - algo que vem da minha adolescência em que assistia temporadas completas de animes em um final de semana. I'm Not Okay With This traz episódios com cerca de 20 minutos e consegue desenvolver as questões dos episódios sem torná-lo cansativo e sem correr com os acontecimentos. A série é baseada na Graphic Novel de Charles Forsman e sua adaptação para roteiro é feita por Jonathan Entwistle, já conhecido pelo o público da Netflix a partir de The End of The F***ing World.
A trama gira em torno de Sydney Novak - descrita por si mesma como uma "garota branca sem graça de 17 anos" - que tem problemas em controlar e até mesmo compreender sua personalidade e sentimentos. A história se desenvolve em um período posterior ao suicídio de seu pai e é perceptível desde o início o quanto essa perda a afetou. A relação de Sydney com a mãe não é boa, resultando em cenas de ataques verbais mútuos que mostram o quanto as duas se sentem distantes em relação à outra. Em contrapartida, a relação com o irmão mais novo é fofa, mostrando companheirismo e aquela proteção que muitas vezes faz falta quando se retrata adolescentes com irmãos. A melhor amiga de Sydney é Dina, uma garota relativamente popular e é a pessoa mais próxima da protagonista no início da série. no entanto, as coisas mudam quando ela começa um relacionamento com Brad Lewis que, apesar da popularidade, é visto por Sydney como só mais um babaca. O afastamento de Dina leva Sydney a se aproximar de Stanley Barber: um cara meio esquisito que não tem vergonha de ser ele mesmo, marcando presença nos episódios decorrentes.
Os episódios iniciais mostram o desenrolar das relações de Sydney e suas descobertas em torno de suas emoções e sexualidade, não muito diferente de séries como Sex Education ou a própriaThe End of The F***ing World ou . Entretanto, Syd começa a perceber coisas estranhas acontecendo ao seu redor e a se perguntar se ela estaria causando-as. É interessante observar o crescer das manifestações de poder à medida em que as emoções da personagem vão ficando mais intensas e descontroladas.
Repleta de referências, que vão desde Carrie: A Estranha a Stranger Things,I'm Not Okay With This é uma série confortável de assistir com seus 7 episódios curtos. Talvez falte um pouco de ousadia, - uma vez que a história é contada de maneira bem simples - contudo, a série deixa espaço para um futuro desenvolvimento em que explore as complexidades dos sentimentos e situações que os personagens vivenciam. Por enquanto, resta esperarmos por uma renovação. Assista ao trailer:
O furor que envolve tudo
em torno de Frozen é inegável. A fórmula é simples de compreender: personagens
cativantes, magia, mudanças glamourosas de vestidos e músicas incríveis. Quando
ouvimos falar em animação da Disney®, automaticamente somos transportados para os
filmes leves e divertidos de final de tarde. Ao longo dos anos, no entanto, é
possível perceber que a Disney® tem investido em roteiros e personagens cada vez
mais profundos e complexos do que as simples princesas que são salvas pelos príncipes
encantados em alguma floresta cheia de perigos.
Frozen traz todo o encantamento que já é esperado de uma
produção desse tipo. Mais do que isso, encontramos músicas dignas de compor as
playlists de nossos celulares, vide Let It Go (com bilhões de
visualizações no Youtube). Os adultos que se renderam, e se permitiram romper a
barreira da Animação, encontraram em Frozen 2 uma evolução surpreendente em relação
ao primeiro filme. É possível perceber o crescimento dos personagens de maneira
bem clara, e mais do que isso, conseguimos sentir suas emoções com
profundidade.
As canções dessa sequência trazem os ares de musical com
muito mais força, elas participam da narração da história muito mais do que no anterior. Além
disso, suas composições estão muito mais dramáticas e repletas de significados,
reforçando a conexão do público com as emoções dos personagens. Foi a partir das
cenas musicais que percebi o quanto Frozen se torna menos um filme infantil. Qualquer
pessoa que tenha assistido Anna em The Next Right Thing (por
Kristen Bell) sofre junto e percebe o quanto essa canção é poderosa, o quanto
ela é significativa para quem está pensando em desistir. Toda a sequência de Elsa com Show Yourself (por Indina Menzel) é tão eletrizante e simplesmente
linda, que não consegui desgrudar os olhos da tela enquanto as imagens se
formavam, é impossível não se emocionar.
A Disney® consegue entregar uma continuação digna para os que
acompanharam o nascimento desse grande sucesso há 6 anos atrás. Especialmente para
quem gosta de musicais, Frozen 2 é um prato cheio. Aguardem por emoção, encantamento e orgulho.