segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

DE VOLTA PARA CASA, L. A. Casey

"As pessoas tomam as próprias decisões, qualquer que seja a situação. Se fazem alguma coisa, é porque elas decidiram fazer. Não é sua culpa."


Editora: AllBook | Páginas: 278 | 2020 | 1ª Edição | Romance Contemporâneo

De Volta para Casa chegou até mim por meio das cortesias do Skoob e antes disso eu não sabia absolutamente nada sobre o livro. A Capa não nos diz muito sobre a história e a sinopse não revela metade da intensidade que a obra de Casey transborda.

Engana-se quem pensa que De Volta para Casa é um simples romance. Logo no início da narrativa descobrimos que Lane não fala mais com sua família e o único laço que ainda tinha com essa parte de sua vida acabara de se partir com a morte do seu tio Harry. Voltando para sua cidade natal, a protagonista precisa encarar seus antigos fantasmas e, não suficiente o sofrimento pela morte de sua pessoa favorita no mundo, antigas feridas são reabertas no momento em que reencontra Kale Hunt. 

Apesar de parecer ser um romance clichê em que amigos se apaixonam e não podem ficar juntos, a autora vai muito além disso. O formato da narrativa (alternando passado e presente) vai revelando o surgimento dos conflitos no passado, enquanto Lane tenta lidar com eles no presente. Por vezes, durante a leitura eu pensei "caramba, o que mais falta acontecer com essa mulher?" e, apesar de todas as coisas horríveis pelas quais passa, Lane vive seu sofrimento e depois se levanta, segue em frente e encara o próximo obstáculo, porém, não sem ser abalada por eles. É bem evidente o quanto ela está quebrada e sem rumo. Não é difícil ser levado às lágrimas por tanto sofrimento e pelas tentativas de encontrar a felicidade. 

De Volta para Casa trata, entretanto, de temas muito profundos dentro do ambiente familiar. As mágoas da protagonista contrastam com as mágoas dos seus familiares de maneira muito intensa. O leitor consegue, facilmente, compreender os sentimentos dos personagens e entender suas motivações, medos e receios. Dessa maneira, é lindo observar seu crescimento e imaginar um final feliz que parece impossível diante de tantos problemas que se apresentam página após página. 

Uma leitura inesperada que foi, definitiva e literalmente, um presente!
@prateleirasdeaquarela

sábado, 19 de dezembro de 2020

JOYLAND, Stephen King

"Quando se tem vinte e um anos, a vida é um mapa rodoviário. Só quando se chega aos vinte e cinco, mais ou menos, é que se começa a desconfiar que estávamos olhando para o mapa de cabeça para baixo"



Editora: Suma | Páginas: 240 | 2015 | 1ª Edição | Thriller e Suspense

Em 2020 eu me permiti explorar e expandir as minhas leituras, buscando criar uma diversidade maior, trazer clássicos e autores consagrados dos quais eu me envergonhava não ter lido nada ainda. Fazia tempo que eu queria ler uma obra do King. Eu não sou uma grande fã do terror, no entanto, e, após ver vários comentários sobre Joyland, decidi que seria meu ponto de partida.

“Quando se trata do passado, todo mundo escreve ficção.”

O livro acompanha Devin Jones, um jovem universitário que arranja um emprego de verão no parque de diversões Joyland. Devin está passando por um momento complicado em seu relacionamento, o que acaba fazendo com que Joyland seja todo o ponto central da sua vida. Devin fica sabendo, logo antes de começar no trabalho, que há uma história de fantasma rondando o parque: se trata de Linda Grey, uma garota que fora assassinada em uma das atrações e dizem assombrar o trem fantasma desde então. Mas não se engane com esse pano de fundo. Diferente do que eu esperava, as menções ao fantasma são pouquíssimas e não há partes assustadoras, é tudo mais em torno de uma comoção à situação do assassinato e uma empatia de Jones em relação à moça ainda presa ao local de sua morte.

A primeira metade do livro trata muito da vida do protagonista no parque e de seus sentimentos em relação ao seu primeiro amor com quem vem a romper ao longo da narrativa. O personagem é muito cativante e o próprio é o grande fator que faz com que a leitura seja fluida, por mais que não haja grandes acontecimentos pelas primeiras 100 páginas. Não demora para que Dev fique interessado em desvendar mais sobre o caso de Linda Grey e, com a ajuda da amiga Erin Cook, encontre informações que possam levá-lo a desvendar o assassino e o seu paradeiro. Apesar de parecer que Devin é o grande investigador dessa história, a sensação que eu tenho é que ele apenas deixava os acontecimentos se desenrolarem e a ajuda que recebeu foi fundamental para começar a compreender melhor as evidências do assassino. É impossível falar dessa ajuda sem citar Mike, um menino com distrofia muscular que carregava o dom da visão, fundamental na narrativa e por quem é fácil criar um carinho. 

“- Mas havia alguma coisa ali. Eu soube naquele momento e sei agora. O ar estava mais frio. Não o bastante para que minha respiração virasse vapor, mas definitivamente mais frio. Meus braços, pernas e virilha formigaram com arrepios e os cabelos na nuca ficaram em pé.”

Ter uma expectativa diferente do livro não fez a narrativa ser menos interessante. Devin me cativou nas primeiras páginas e me ganhou de vez ao descrever suas performances com as crianças, exibindo uma alegria e um contentamento contagiantes. O autor conseguiu fazer o trabalho pesado no parque parecer, de fato, uma grande aventura e me senti um tanto nostálgica desses momentos em que somos apenas jovens com todo um futuro pela frente. Aliás, a escrita do King me pegou. Já estou em busca de outras obras porque eu fiquei completamente fascinada pela maneira detalhista que o autor escreve sem tornar o livro cansativamente descritivo e se dedicando `à construção de personagens tão completos. 

Aparentemente, dezembro é o mês em que todos os livros lidos se tornam favoritos!

@prateleirasdeaquarela 

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

DAISY JONES & THE SIX, Taylor Jenkins Reid

PROCURO: Pessoas que me ensinem como superar o fato de que Daisy Jones and The Six não são uma banda real.

Esse ano, conforme começava a adentrar no mundo dos Bookstagrans, observei uma grande euforia em torno das obras de Taylor Jenkins Reid. Não dei muita bola, sempre na tendência a fugir dos livros que se tornam muito populares tão rapidamente. Não esperava, no entanto, que Taylor entraria para a lista dos meus autores favoritos. Após me apaixonar por Evelyn Hugo e iniciar uma busca fracassada de encontrar livros que me fizessem me apaixonar tanto quanto a primeira obra que consumi da escritora, me rendi, finalmente, à Daisy Jones & The Six e, cara... Nem sei muito bem como continuar esse post sem parecer fanática.


Editora: Paralela | Páginas: 409 | 2019 | 1ª Edição | Ficção; Romance

"É isso o que todo mundo quer da arte, não? Ver alguém expor os sentimentos que existem dentro de nós. Arrancar um pedaço do seu coração e mostrar para você. É como ser apresentado a uma nova faceta sua."

O livro narra a trajetória de Daisy Jones e da banda The Six em um formato diferenciado: é como se todo o livro fosse parte de uma grande entrevista em que todos os envolvidos com a banda dão o seu ponto de vista de diversos acontecimentos e assim vão construindo a história. Confesso que em um primeiro momento esse formato me pareceu desgastante e achei que a leitura não ia engrenar. Como eu estava enganada! Ao fim do primeiro capítulo, a narrativa dos personagens já está tão entrosada que é impossível desgrudar das páginas sem saber o que virá a seguir. 

"Em algum momento, é preciso reconhecer que não dá para controlar o que os outros fazem, e que dar um passo e se preparar para amparar a pessoa quando ela cair é o máximo que você pode fazer."

A obra de Taylor apresenta questões bastante profundas em um contexto que poderia parecer apenas diversão e fama. Logo de início, já percebemos o quanto o abuso de drogas e álcool interferem nas carreiras e nas vidas pessoais dos personagens. A autora apresenta a questão do vício de uma maneira bastante crua, principalmente em Billy, mostrando que buscar tratamento e redenção pode ser uma luta diária e que a negação pode ser o combustível para o desastre. 

"Teve um dia que Graham sentou na beirada da parte mais funda. Nessa época ele ainda não sabia nadar. Eu estava de pé do lado dele, e ouvi uma voz na minha cabeça dizer: Não tem nada que me impeça de dar um empurrão nele. E esse pensamento me deixou apavorado. Não porque eu queria empurrá-lo. Eu nunca faria isso, mas… o mais assustador era que a única coisa que separava um momento de tranquilidade da maior tragédia da minha vida era uma simples escolha de não fazer aquilo."


Me impressiono com a capacidade de Jenkins criar personagens tão viscerais, tão reais. Suas personalidades e vidas são muito palpáveis e por vezes é difícil acreditar que não são pessoas que realmente existiram (o que me corta o coração porque tudo que eu queria era correr para o Youtube e ouvir Regret me ou This could get Ugly e essa foi minha única decepção). Talvez o que eu tenha gostado mais tenha sido o modelo de narrativa, uma vez que isso abre uma possibilidade gigantesca de pontos de vista. Por mais que você leia certas coisas e pense "isso é meio absurdo", é muito fácil observar que é apenas a visão pessoal do personagem e não um posicionamento da autora, o que dá liberdade para que surjam características muito humanas, dotando os protagonistas de qualidades, defeitos e sentimentos muito verdadeiros e, muitas vezes, confusos e perturbadores. Como superar esse impacto? 

https://www.instagram.com/prateleirasdeaquarela/



sábado, 12 de dezembro de 2020

KALCIFERUM, Andrei Fernandes


Editora: Penumbra Livros | Páginas: 332 | Ano: 2019 | 2ª Edição | Fantasia

Trombei com Kalciferum enquanto procurava eBooks gratuitos no Kindle e decidi dar uma chance a essa leitura porque adorei essa capa e a sinopse me deixou bastante curiosa sobre a fantasia criada por Andrei Fernandes. 

"No final de sua vida, vai olhar para trás e vai perceber que todos os nós que fez pelos anos o levaram para o único e óbvio caminho."

A obra apresenta Rafael, um jovem que está no fundo do poço, perdeu a mãe recentemente e está vivendo à base de seu seguro desemprego que está prestes a vencer. Desconcertado com essa situação, o personagem conhece sua nova vizinha Ariane com quem simpatiza de cara, mas que ao oferecê-lo uma leitura de tarô revela que a sua vida está prestes a passar por reviravoltas que estarão ligadas diretamente às suas escolhas. Os acontecimentos seguintes levam Rafael a fazer as escolha de trabalhar em uma grande empresa na cidade de São Paulo, onde vive e lá ele conhece Cal, um estagiário um tanto mal educado que posteriormente se revela como um demônio. A situação toda não só revela para Rafael a existência de um mundo sobrenatural oculto, como também o arrasta para dentro dele no momento em que Cal o manipula a assinar um contrato que liga os dois.

Acho um tanto difícil de descrever Kalciferum porque são muitos acontecimentos dentro de uma única narrativa. O livro é muito divertido e carregado de muitas cenas de ação e criaturas sobrenaturais. Rafael passa muita verdade, sua situação financeira representa a situação de muitos brasileiros, no entanto, o autor consegue criar essa ambientação sem tornar tudo triste e arrastado, dando a sensação de que o protagonista está rindo da própria desgraça. Andrei enriquece a história com diversos seres sobrenaturais inimagináveis, repleto de diversos tipos de demônios, bruxas e diferentes mitos, o livro não se torna maçante e é muito fácil devorar suas páginas enquanto Rafael adentra no mundo oculto e enfrenta diversos imprevistos.

A criatividade de Andrei Fernandes é um presente para a Literatura Fantástica brasileira. Fiquei impressionada com o quão distante sua capacidade imaginativa foi para abranger e interligar tantas mitologias em uma única obra. Só gostaria que ele tivesse aprofundado um pouco melhor os personagens secundários, alguns parecem ser representações muito vazias e as emoções são pouco reais, difícil se conectar com seus sentimentos. No mais, uma grande estreia para o autor e uma leitura imersiva bastante interessante e que apresenta um demônio bastante sarcástico e enigmático que rouba a cena mesmo com toda a sua discrição.