"Quando se tem vinte e um anos, a vida é um mapa rodoviário. Só quando se chega aos vinte e cinco, mais ou menos, é que se começa a desconfiar que estávamos olhando para o mapa de cabeça para baixo"

Editora: Suma | Páginas: 240 | 2015 | 1ª Edição | Thriller e Suspense
Em 2020 eu me permiti explorar e expandir as minhas leituras, buscando criar uma diversidade maior, trazer clássicos e autores consagrados dos quais eu me envergonhava não ter lido nada ainda. Fazia tempo que eu queria ler uma obra do King. Eu não sou uma grande fã do terror, no entanto, e, após ver vários comentários sobre Joyland, decidi que seria meu ponto de partida.
“Quando se trata do passado, todo mundo escreve ficção.”
O livro acompanha Devin Jones, um jovem universitário que arranja um emprego de verão no parque de diversões Joyland. Devin está passando por um momento complicado em seu relacionamento, o que acaba fazendo com que Joyland seja todo o ponto central da sua vida. Devin fica sabendo, logo antes de começar no trabalho, que há uma história de fantasma rondando o parque: se trata de Linda Grey, uma garota que fora assassinada em uma das atrações e dizem assombrar o trem fantasma desde então. Mas não se engane com esse pano de fundo. Diferente do que eu esperava, as menções ao fantasma são pouquíssimas e não há partes assustadoras, é tudo mais em torno de uma comoção à situação do assassinato e uma empatia de Jones em relação à moça ainda presa ao local de sua morte.
A primeira metade do livro trata muito da vida do protagonista no parque e de seus sentimentos em relação ao seu primeiro amor com quem vem a romper ao longo da narrativa. O personagem é muito cativante e o próprio é o grande fator que faz com que a leitura seja fluida, por mais que não haja grandes acontecimentos pelas primeiras 100 páginas. Não demora para que Dev fique interessado em desvendar mais sobre o caso de Linda Grey e, com a ajuda da amiga Erin Cook, encontre informações que possam levá-lo a desvendar o assassino e o seu paradeiro. Apesar de parecer que Devin é o grande investigador dessa história, a sensação que eu tenho é que ele apenas deixava os acontecimentos se desenrolarem e a ajuda que recebeu foi fundamental para começar a compreender melhor as evidências do assassino. É impossível falar dessa ajuda sem citar Mike, um menino com distrofia muscular que carregava o dom da visão, fundamental na narrativa e por quem é fácil criar um carinho.
“- Mas havia alguma coisa ali. Eu soube naquele momento e sei agora. O ar estava mais frio. Não o bastante para que minha respiração virasse vapor, mas definitivamente mais frio. Meus braços, pernas e virilha formigaram com arrepios e os cabelos na nuca ficaram em pé.”
Ter uma expectativa diferente do livro não fez a narrativa ser menos interessante. Devin me cativou nas primeiras páginas e me ganhou de vez ao descrever suas performances com as crianças, exibindo uma alegria e um contentamento contagiantes. O autor conseguiu fazer o trabalho pesado no parque parecer, de fato, uma grande aventura e me senti um tanto nostálgica desses momentos em que somos apenas jovens com todo um futuro pela frente. Aliás, a escrita do King me pegou. Já estou em busca de outras obras porque eu fiquei completamente fascinada pela maneira detalhista que o autor escreve sem tornar o livro cansativamente descritivo e se dedicando `à construção de personagens tão completos.
Aparentemente, dezembro é o mês em que todos os livros lidos se tornam favoritos!
