sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

SALEM, Stephen King

"Deus, dai-me SERENIDADE para aceitar o que não posso mudar, TENACIDADE para mudar o que posso e SORTE para não fazer muita merda."

Recentemente, adentrei no universo de Stephen King através da leitura de Joyland, que se tornou um dos meus livros favoritos de 2020. Para esse ano, minha meta era adicionar mais um livro do autor ao meu repertório literário, mas depois da experiência que foi a leitura de Salem, imagino que muito mais de King chegará às minhas prateleiras em breve.

Editora: SUMA | Páginas: 464 | 2007 | 1ª Edição | Suspense; terror; sobrenatural

Salem é mais do que a história de personagens centrais. Pode-se dizer que a grande protagonista é a própria cidade de ‘Salem’s Lot, onde conhecemos logo de início o escritor Ben Mears, que acabara de retornar e está buscando exorcizar seus próprios demônios e esse é o grande combustível para a primeira metade da história que acaba por girar em torno da Casa Marsten, um antigo casarão que assombrava as memórias e pesadelos de Ben. Toda essa questão da casa trouxe uma reflexão sobre o medo - e o amadurecimento destes - que dá um tom diferenciado à obra de King e, pessoalmente, eu mesma fui influenciada a questionar meus próprios medos e o que me tira o sono à noite.

“Acho que é relativamente fácil para as pessoas aceitarem coisas na telepatia e na parapsicologia, porque não lhes custa nada. Não lhes tira o sono à noite. Mas a ideia de que um homem pode morrer e deixar o mal como legado é muito mais perturbadora

Os outros personagens centrais também são cativantes. A mocinha que quer ir para a cidade grande e se livrar do controle dos pais, o professor que se mostra muito mais aberto ao sobrenatural do que imaginaria estar um dia e um médico que precisa renunciar à ciência para reconhecer o terror que passa a banhar ‘Salem’s Lot. Não posso esquecer, é claro, de Mark Petrie, um garotinho que brotou na história com uma coragem impressionante e que foi essencial para o desenrolar da luta contra os seres da noite. No entanto, o que mais me fez amar Salem foi a construção da cidade. Sei que esse é um dos motivos para muitas pessoas tirarem pontos na avaliação da obra, mas eu achei genial. O autor nos apresenta aos moradores e aos seus costumes, sua rotina. De maneira sutil, esses nomes vão sendo registrados pelo leitor e, quando algo acontece a alguém, é como ficar sabendo de uma notícia sobre algum conhecido com quem esbarramos por aí diariamente.

Algumas subtramas acabaram por ficar pouco desenvolvidas, porém, isso não me incomodou, uma vez que havia muitas coisas acontecendo e isso não alteraria nada na história afinal de contas. Também não há muito o que falar sobre o vilão. O grande terror de Salem está no pré confronto, quando pequenas situações aterrorizantes começam a acontecer e os personagens não sabem com o que estão lidando. Tudo o que vem depois da revelação do inimigo fica transitando na sensação de que a qualquer momento tudo pode vir abaixo (e era nessas horas que eu gritava para Ben desaparecer daquela cidade).

A escrita de King é muito cativante. Eu já havia citado a minha admiração por seu detalhismo que faz tudo se tornar muito visual sem ser descritivo demais. Após a leitura, descobri que esse é o segundo livro do autor e que ele é inspirado em o Drácula de Bram Stoker, talvez, por isso tantos elementos clássicos e conhecidos popularmente estejam presentes aqui. Descobri-me alguém que gosta de histórias de terror (apesar de não gostar dos filmes do gênero) e Stephen King já está entrando para a minha lista de autores favoritos.

Esteja preparado para ficar angustiado por boa parte das 464 páginas!
 
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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CASTELO DAS ÁGUAS, Juliana Cherni

"Era triste ouvir que um dinossauro criado em sua mente poderia entendê-la melhor que eu, mas eu aceitava, pois somente estando dentro de sua mente para saber o que ela realmente queria. Como ele foi criado por ela, ele teria as palavras certas. Já eu, nem sempre."


"As gêmeas Claire e Hazel McQueen tinham tudo para ter uma vida normal na linda cidade portuária de Silent Rocks. No entanto, as coisas fugiram um pouco da normalidade para sua família quando os amigos imaginários da infância de Hazel continuaram presentes à medida que ela crescia, levantando suspeitas em relação à sua sanidade mental.
Desgastes familiares, uma confusão em um evento importante, seguido pelo afastamento dos amigos, fez com que a família desse início a uma busca incansável por um diagnóstico.
Contudo, as coisas pioram quando Hazel descobre que a irmã vai embora da cidade para cursar biologia marinha e passa a acreditar piamente estar vivendo um romance com um tritão.
Claire precisa ter certeza de que a irmã ficará bem durante a sua ausência e vai contar com a ajuda de Alex, um amigo de infância que sempre foi apaixonado por Hazel."

Editora: Independente | Páginas: 176 | 2020 | 1ª Edição | Fantasia

Pensei muito antes de trazer a resenha dessa obra para o blog. Me faltavam - e ainda faltam - as palavras para descrever a sensibilidade de Juliana Cherni ao apresentar Claire e Hazel.

A narrativa de Cherni nos apresenta às gêmeas McQueen, inseridas em uma sociedade superficial e com uma mãe que de tudo fazia para se encaixar em meio às mulheres da alta sociedade, deixando as necessidades das filhas em segundo plano e negligenciando, principalmente, Hazel, que mostrava necessitar de uma atenção especial. Desde o início da narrativa , percebemos o quanto Claire é prejudicada nessa relação, uma vez que acaba por se tornar uma substituta para a mãe nos cuidados de Hazel e, dentre todos os acontecimentos constrangedores pelos quais passam, as gêmeas acabam por encarar o lado mais sujo da humanidade: o preconceito.

A obra é carregada de emoções e eu perdi a conta de quantas vezes cheguei às lágrimas. Observar tudo da perspectiva de Claire revela o amor gigantesco que ela sente pela irmã, além de nos conectar com seus sentimentos e perceber que, mesmo tendo que abrir mão de uma vida normal, ela faria tudo de novo e de novo para proteger sua gêmea. E não é que a vida delas não pudesse ser normal, poderiam facilmente conviver nos círculos sociais, cultivando amigos e aproveitando de tudo que Silent Rocks tinha para oferecer. O que as impedia era todo o julgamento que Hazel recebia, sendo tratada, frequentemente, como louca e recebendo diversos tipos de agressão pelo simples fato de ser diferente dos demais.

"Muitas vezes não nos damos conta do tempo que temos pela frente. Não faz ideia de quantas pessoas você irá conhecer e quantas ainda irão te decepcionar. Nunca mendigue atenção daqueles que não valem a pena, pois você sabe seu valor. Aqueles que conseguirem enxergar isso, farão de tudo para ficar ao seu lado."

Apesar de ser um livro de fantasia, esses elementos fantásticos estão, na maior parte do tempo, dentro da cabeça de Hazel. É emocionante e tocante a maneira que ela encontra de se refugiar dos ataques que sofre. Insisto em refletir se a vida das duas poderia ter sido diferente se elas tivessem sido acolhidas por todos como foram por alguns personagens que surgiram pelo meio do caminho. Gostaria que o final tivesse tomado um rumo diferente, no entanto, mas entendo a intenção da autora de abraçar o mundo de fantasia daqueles que são como Hazel. Castelo das Águas é a representação de como uma vida pode ser destruída pelo bullying e pelo preconceito, mas também pode ser definido como uma lição de abnegação, empatia e de verdadeiro amor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O CONTO DA AIA, Margaret Atwood

“Talvez eu não queira saber de verdade o que está acontecendo. Talvez eu prefira não ter conhecimento. Talvez não possa suportar o conhecimento. A Queda foi uma queda da inocência para o conhecimento.” 

Editora: Rocco | Páginas: 368 | 2017 | 1ª Edição | Distopia

É muito curioso ter tanto a dizer sobre O Conto da Aia e não saber como colocar isso em um post. Há algum tempo venho me engajado em consumir conteúdos que tragam uma reflexão em torno do papel da mulher na sociedade, mas nenhum bateu tão forte quanto essa leitura. O livro acompanha Offred/June, uma mulher que teve sua liberdade tirada de si, assim como todas as mulheres situadas em Gilead. O país passou por transformações devido à baixa natalidade e que tiveram como suporte dogmas religiosos extremistas. Dessa maneira, Offred se torna uma aia, a pessoa cuja única função social é dar à luz a um bebê que será entregue à família do comandante a que serve.

Entre reviravoltas e acontecimentos perturbadores, Atwood faz com que uma realidade completamente absurda se aproxime muito da nossa sociedade atual. Em pequenos diálogos e atos hediondos, percebemos o quanto a mulher ainda é vista por muitos como obrigada a ter filhos, ainda que não queira, porque "esse é o nosso destino biológico". Outros estereótipos, como as Marthas, estão presentes na obra. A mulher que deve cozinhar, a mulher que deve ser esposa, a mulher que deve dar frutos... Até mesmo as mulheres que se encontram em uma posição, mínima, de poder são o espelho da opressão e da silenciação feminina.

Adorei a maneira como a autora construiu essa narrativa. De início tudo parece descritivo demais, mas aos poucos vamos sendo envolvidos e nos adaptamos a ver as coisas pelos olhos de Offred de maneira que parece estarmos, de fato, acompanhando seus pensamentos. Essa foi a minha última leitura de 2020 e achei um ótimo fechamento de ano. Mesmo já tendo assistido a série, a leitura é sempre outra experiência.

Segue a Sinopse Oficial:

"O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. A Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar, depois que uma catástrofe nuclear tornou estéril um grande número de pessoas. E sem dúvida, ainda que vigiada dia e noite e ceifada em seus direitos mais básicos, o destino de uma aia ainda é melhor que o das não-mulheres, como são chamadas aquelas que não podem ter filhos, as homossexuais, viúvas e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde o nível de radiação é mortífero. Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente."

- NOLITE TE BASTARDES CARBORUNDORUM -