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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Minha experiência com Acotar

Quando comecei no Bookstagram, Acotar era a série do momento. Era difícil rolar os stories sem ver gente falando sobre o quanto amavam os livros e o quanto a escrita de Sarah J. Maas era sensacional. Algumas poucas páginas foram suficientes para me convencer de que Sarah realmente tem uma escrita com um toque de feitiçaria, que prende o leitor e impulsiona na obsessão de descobrir o novo universo que se estende bem à frente em um emaranhado de palavras. Porém, após ler os três livros que, originalmente, compõem a história de Prythian, cheguei à conclusão de que para dizer que gosto da trilogia, preciso fingir que o primeiro livro não existe.

Classifiquei A Corte de Espinhos e Rosas com duas estrelas e meia. Achei boa parte do livro muito morna e a relação de Feyre com Tamlim muito artificial. Considerando que esse primeiro volume gira em torno disso, a leitura poderia ter sido arrastada, não fosse a escrita da Sarah me impulsionando a querer descobrir mais sobre pequenas informações escondidas dentro do drama do casal. Para mim, a vilã foi desperdiçada. Todo o medo que criam em torno dela culmina em uma personagem caricata e pouco crível, que por vezes tem falas que soam bobas. Admito que senti vergonha alheia de algumas frases da tão temida Amarantha.

Preciso, é claro, falar de Rhysand. É muito inacreditável como o personagem que aparece no primeiro livro é completamente oposto ao que surge em Corte de Névoa e Fúria. A sensação que eu tenho é que, de fato, é outro personagem. Enquanto senti nojo do primeiro Rhys e de todos os abusos que ele pratica com Feyre - sob a justificativa de proteger o povo dele e a ela mesma -, o que se mostra no segundo volume é o verdadeiro sonho da maioria das leitoras. O desenvolvimento do personagem é impressionante e por vezes soa perfeito demais, com ideais à prova de erros e com um altruísmo que me fez questionar muito sobre seus reais motivos que, por fim, não tinham uma segunda camada. Fiquei um pouco incomodada com a maneira que se desconstrói a imagem que criamos de Tamlim no primeiro livro. O próprio também parece ser substituído por outro personagem, cheio de uma soberba e um orgulho desagradável que eu honestamente não havia notado antes.

A grande ameaça da sequência deveria ser o Rei de Hybern, porém, só sinto essa ameaça se solidificar no terceiro, uma vez que é o fantasma de Amarantha que segue sendo o grande terror a assombrar os protagonistas. Inclusive, esse pavor que sentem da vilã derrotada e das coisas que ela fez me soou muito mais interessante do que sua performance Sob a Montanha. Feyre mergulha em um processo depressivo que foi muito bem trabalhado pela autora sem precisar dar nomes ao que ela estava passando.

Chegamos a Corte de Asas e Ruína e, finalmente, vislumbramos a guerra de fato. Apesar de haver ação nos livros anteriores, principalmente em Corte de Névoa e Fúria, todos os acontecimentos encaminham a narrativa para este momento. Temos os acréscimos de Elain e Nestha à narrativa após serem jogadas no caldeirão, resultado da traição de Tamlim. A segunda ganha um espaço enorme nos acontecimentos. Elain, entretanto, fica meio apagadinha e o dom que ela demonstra, no início, acaba se perdendo do meio para o final. (Se alguém conseguiu entender a relevância de estabelecer laço de parceria entre ela e Lucien, me explique, porque me pareceu ser só uma maneira de justificar que ele deixasse a corte primaveril.) Muitas criaturas e personagens diversos também vão sendo acrescentados ao longo das 1.778 páginas. Fiquei intrigada sobre Amren, O entalhador de ossos, Bryaxis e, principalemente, A tecelã. Sarah tem, de fato, um talento para a construção mitológica a compor o mundo que cria.

Não vou estender os detalhes sobre a história, acho que cada um precisa ver por si. Pessoalmente, foi uma leitura empolgante, apesar dos pontos que considerei críticos. Achei que a autora dá uma forçada para que as coisas deem certo e não aguento mais ver personagens serem ressuscitados, mas, de modo geral, foi divertido (desde que eu ignore a existência do livro I).


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CASTELO DAS ÁGUAS, Juliana Cherni

"Era triste ouvir que um dinossauro criado em sua mente poderia entendê-la melhor que eu, mas eu aceitava, pois somente estando dentro de sua mente para saber o que ela realmente queria. Como ele foi criado por ela, ele teria as palavras certas. Já eu, nem sempre."


"As gêmeas Claire e Hazel McQueen tinham tudo para ter uma vida normal na linda cidade portuária de Silent Rocks. No entanto, as coisas fugiram um pouco da normalidade para sua família quando os amigos imaginários da infância de Hazel continuaram presentes à medida que ela crescia, levantando suspeitas em relação à sua sanidade mental.
Desgastes familiares, uma confusão em um evento importante, seguido pelo afastamento dos amigos, fez com que a família desse início a uma busca incansável por um diagnóstico.
Contudo, as coisas pioram quando Hazel descobre que a irmã vai embora da cidade para cursar biologia marinha e passa a acreditar piamente estar vivendo um romance com um tritão.
Claire precisa ter certeza de que a irmã ficará bem durante a sua ausência e vai contar com a ajuda de Alex, um amigo de infância que sempre foi apaixonado por Hazel."

Editora: Independente | Páginas: 176 | 2020 | 1ª Edição | Fantasia

Pensei muito antes de trazer a resenha dessa obra para o blog. Me faltavam - e ainda faltam - as palavras para descrever a sensibilidade de Juliana Cherni ao apresentar Claire e Hazel.

A narrativa de Cherni nos apresenta às gêmeas McQueen, inseridas em uma sociedade superficial e com uma mãe que de tudo fazia para se encaixar em meio às mulheres da alta sociedade, deixando as necessidades das filhas em segundo plano e negligenciando, principalmente, Hazel, que mostrava necessitar de uma atenção especial. Desde o início da narrativa , percebemos o quanto Claire é prejudicada nessa relação, uma vez que acaba por se tornar uma substituta para a mãe nos cuidados de Hazel e, dentre todos os acontecimentos constrangedores pelos quais passam, as gêmeas acabam por encarar o lado mais sujo da humanidade: o preconceito.

A obra é carregada de emoções e eu perdi a conta de quantas vezes cheguei às lágrimas. Observar tudo da perspectiva de Claire revela o amor gigantesco que ela sente pela irmã, além de nos conectar com seus sentimentos e perceber que, mesmo tendo que abrir mão de uma vida normal, ela faria tudo de novo e de novo para proteger sua gêmea. E não é que a vida delas não pudesse ser normal, poderiam facilmente conviver nos círculos sociais, cultivando amigos e aproveitando de tudo que Silent Rocks tinha para oferecer. O que as impedia era todo o julgamento que Hazel recebia, sendo tratada, frequentemente, como louca e recebendo diversos tipos de agressão pelo simples fato de ser diferente dos demais.

"Muitas vezes não nos damos conta do tempo que temos pela frente. Não faz ideia de quantas pessoas você irá conhecer e quantas ainda irão te decepcionar. Nunca mendigue atenção daqueles que não valem a pena, pois você sabe seu valor. Aqueles que conseguirem enxergar isso, farão de tudo para ficar ao seu lado."

Apesar de ser um livro de fantasia, esses elementos fantásticos estão, na maior parte do tempo, dentro da cabeça de Hazel. É emocionante e tocante a maneira que ela encontra de se refugiar dos ataques que sofre. Insisto em refletir se a vida das duas poderia ter sido diferente se elas tivessem sido acolhidas por todos como foram por alguns personagens que surgiram pelo meio do caminho. Gostaria que o final tivesse tomado um rumo diferente, no entanto, mas entendo a intenção da autora de abraçar o mundo de fantasia daqueles que são como Hazel. Castelo das Águas é a representação de como uma vida pode ser destruída pelo bullying e pelo preconceito, mas também pode ser definido como uma lição de abnegação, empatia e de verdadeiro amor.