quinta-feira, 23 de julho de 2020

A ESPADA E A BAINHA, Luiz Junior

"Nunca notou como vocês da Terra se parecem com robozinhos? Estão sempre fazendo as mesmas coisas que resultam nas mesmas coisas e mesmo assim vocês estão sempre repetindo  e repetindo e repetindo. A alegria - que é uma característica da vida! - a alegria entre vocês não existe mais. E como se fosse algo proibido! Brincar, se divertir. Rir uns da cara dos outros..."

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Editora: Djinn | Páginas: 170 | Ano: 2020 | 1ª Edição | Fantasia e Aventura | eBook | Nacional

A Espada e A Bainha é o mais novo livro da Editora Djinn, e é uma inovação bastante interessante para os que, assim como eu, são fãs de aventura. Se trata de um livro interativo e os caminhos que tomar poderão mudar completamente a sua experiência com a leitura. Pegue um dado e vamos explorar Aventurândia ao lado de Marquinhos

   O livro narra a história de Marquinhos, um menino brasileiro de 13 anos com pais separados e que vive com a rígida avó materna enquanto sua mãe estuda no exterior. Marquinhos se mostra, desde o início, infeliz com a vida que leva, imerso em uma rotina de regras e sucos de beterraba, sendo cobrado dia a dia para ter as notas perfeitas, isso sem contar as atividades extracurriculares! Mas Marquinhos não reclama muito, sabe que é assim que as coisas são e, apesar de não gostar muito, segue realizando as mesmas tarefas dia a dia, sonhando com o dia em que visitará o pai e terá liberdade para ser jovem e aproveitar para brincar e ser jovem como não pode ser na casa da avó Vera.
  Marquinhos entra na jornada do autoconhecimento quando aparece em seu quarto um ser muito incomum, uma pequenina árvore de nome Lorde Cascudão e o apresenta à Aventurândia e ao seu destino de salvar essa terra tão mágica que vem sendo assolada pelo vilão Trevoso (isso mesmo, Trevoso), que vê um grande potencial lucrativo naquele paraíso de criaturas fantásticas. É aí que nos deparamos com a sua verdadeira busca: encontrar a Espada de Cristal e salvar a Princesa Lua para juntos enfrentarem o grande vilão. 


"- Lá na trilha... você me chamou de menino, e não de Príncipe, por quê?
Jades encarou Marquinhos, com olhos sombrios, antes de responder.
- Porque você é.
(...)
- Porque será que as pessoas me chamam de Príncipe Sol?
- Porque você será!" 

- A Espada e a Bainha é um adorável convite à experiência -


   O curioso sobre esse livro é que, em determinado momento, você é convidado a permitir que o destino decida pelos próximos passos do nosso protagonista. Nossa primeira ação interativa acontece nos capítulos iniciais de Aventurândia e te direciona a uma escolha que o personagem faz e essas escolhas mudam completamente a sua experiência com a leitura, já que os personagens envolvidos apresentam características muito diferentes, as quais somos convidados constantemente a refletir sobre. 
   Desde o início do livro o autor nos confronta com reflexões, ao final dos capítulos, que giram em torno dos nossos objetivos e do que fazemos e podemos fazer para alcançá-los. Confesso que, de início, não gostei muito dessas questões e me pareciam completamente desconectadas da narrativa, mas em determinado momento elas pareceram fazer completo sentido e posso dizer que levei uns tapas na cara (haha).

"Marquinhos abaixou a cabeça e , por um instante, ficou triste. Ele via na televisão as reportagens sobre a devastação da amazônia e sobre a poluição dos mares, sobre o aquecimento global... mas aquilo tudo parecia tão distante, tão longe da realidade dele, que ele nunca tinha prestado atenção. Mas, agora, ali... na frente dele!"

   É um livro curto, então tive a oportunidade de explorar as outras oportunidades que o livro deixa disponível. Posso dizer que as opções que seguimos nos dão uma visão completamente diferente da narrativa, e também sobre nós mesmos. Por diversas vezes me senti confrontada por questões pessoais minhas a partir da escrita de Luiz Junior e que me levaram a repensar muitas certezas que eu já tinha. A maior conclusão que eu poderia tirar é de que, não importa o final da jornada, é quem te acompanha no caminho que transforma a aventura e nos transforma. Não posso dizer que A Espada e A Bainha seja qualquer coisa menos do que um adorável convite à experiência e com essa experiência, tornamos o livro parte de nós, tanto quanto nós nos tornamos parte dele. Entretanto, não poderia deixar de dizer que senti falta de certo aprofundamento na história. Achei que, no livro, tudo foi concluído muito rápido e não há um desenvolvimento dos personagens secundários. Ainda assim, é uma leitura fluida e curta, extremamente agradável de acompanhar. 

Minha reflexão para Luiz Junior é: Todos os caminhos que trilhamos, todas as escolhas que fazemos, nos trazem exatamente para o hoje. Não adianta olhar para trás e pensar nas possibilidades perdidas, que poderiam ter nos levado exatamente para o mesmo lugar em que chegamos, mas podemos utilizar os aprendizados de hoje para construir um amanhã melhor, tomando as rédeas das nossas vidas, nos responsabilizando pelas decisões que precisamos tomar e buscando, constantemente, escolher os caminhos que nos levem para aquilo que o nosso coração realmente deseja, afinal, a aprendizagem, o crescimento acontece no caminho e não na conquista.


Imagem com fundo escuro em que há três dados posicionados lado a lado de maneira desalinhada onde se lê na parte de cima "Lance os dados, faça sua história" e na parte de baixo "A Espada e a Bainha (em breve)"
Imagem de divulgação por Luiz Junior/Instagram 

Sinopse Oficial: "Marquinhos terá uma difícil jornada pela frente. Eleito o herói que salvará a terra fantástica de Aventurândia, ele enfrentará um terrível inimigo que fará de tudo para o impedir de atingir seus objetivos. Nesta saga com seres mitológicos, fadas, gnomos, dragões e feiticeiros, você é o guia! 
Totalmente escrito a partir da ótica da Psicologia Analítica, este livro é um livro de aconselhamento para as coisas que você passa pelo dia a dia. Sempre que precisar, separe um tempo para você, pegue seu dado, lápis e papel e comece a leitura. A cada momento que for solicitado, jogue o dado, vá para o capítulo, leia e reflita sobre o que aprendeu e o que pode ser aplicado ao seu momento.
Use A Espada e a Bainha como um conselheiro para todos os seus momentos. São 576 histórias possíveis nestas curtas páginas, com resultados diferentes."

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Sobre o Autor: "Luiz Junior é formado em Design de Produtos pela Universidade Mackenzie e em Geografia pela USP, com extensão em Arqueologia pela PUC/SP e pós-graduação em Mitologia, Contos de Fadas e Psicologia Analítica pela UNIP. É astrólogo desde 2010 e autor desde 2012. Atualmente dá palestras sobre astrologia, esoterismo e mitologia nos principais eventos da área, como a Mystic Fair e a Convenção das Bruxas de Paranapiacaba. Escreve regularmente para diversas mídias, como o Jornal Cotia Agora." (Segundo o site Clube de Autores, acessado em julho de 2020). 

"As histórias são ferramentas que questionam e fazem pensar sobre nossos temas pessoais e humanos. Uma história bem contada contém elementos míticos e arquetípicos que despertam nossas histórias pessoais. Ler ativa nossas memórias mais antigas, fornecendo respostas às nossas inquietações." 
(Luiz Junior) 
Sobre a Editora: Fundada em 2018 por Leandro Zapata, a Editora Djinn nasceu para cobrir dois buracos gigantescos no mercado editorial brasileiro. A Djinn nasceu para ser uma editora de verdade. 
As grandes editoras nacionais não publicam livros de autores nacionais – ou pelo menos, são extremamente raros, caso você não seja Paulo Coelho, André Vianco ou algum YouTuber. Enquanto as editoras pequenas são apenas uma capa para o serviço de uma gráfica, já que elas não fazem o serviço de uma editora; muitas até nem leem os livros que publicam, simplesmente mandam para o revisor, fazem a diagramação e capa, imprimem e pronto. Livro publicado. 
  
   A Djinn está longe disso. 
  
   ​O Nosso primeiro diferencial é justamente oferecer o serviço de um editor, que batizamos de Apoio Editorial. Todos os nossos autores, pagos ou contratados, terão suas publicações lidas do começo ao fim; então, o editor irá apontar as forças e fraquezas dos livros editados, para que o livro tenha esteja em sua melhor forma na hora de publicar, evitando também, em casos de sagas, contradições. 
   O segundo maior buraco que a Djinn busca cobrir é a divulgação e venda dos livros. Com um plano de divulgação pré-montado e com novas ideias vindas do próprio autor, cada livro terá uma campanha de divulgação de 7 semanas, com banner, book-trailer e outros métodos. Além de um mês de pré-venda, que antecede a publicação. 
  
   E por fim, a editora visa pontualidade. Nada de publicar um livro em Junho e só receber em Outubro. Como estamos sempre fazendo tudo adiantado, no dia marcado para o lançamento, o autor já estará com o livro em mãos. 
  
   O último diferencial da Editora Djinn está na liberdade que damos ao autor de escolher. Com exceção do serviço de Revisão, todos os autores – exceto os contratados – poderão optar pelos serviços que serão aplicados em seus livros. Se o autor quer fazer a própria capa ou terceirizar o serviço porque encontrou mais barato, sem problema; se ele mesmo quer fazer sua diagramação, ok. Contudo, apenas com aprovação da editora; caso não esteja de acordo com nosso padrão de qualidade, não aceitaremos o que o autor fizer. 



quarta-feira, 24 de junho de 2020

CONTOS E LENDAS DA ESCURIDÃO, Claudio Magalhães

Da autoria de Claudio Magalhães, Contos e Lendas da Escuridão é um livro de contos obscuros que será lançado, em breve, pela Editora Djinn. Tive o prazer e a oportunidade de realizar essa leitura e devo dizer: fiquei bastante surpresa.


Editora: Djinn | Páginas: 194 | Ano: 2020 | 1ª Edição | Sobrenatural; Terror | eBook

Sinopse Oficial: Contos e Lendas da Escuridão passeia numa atmosfera neutra de nossas mentes. Coloca o terror como carro chefe de situações paranoicas que o ser humano consegue reverter a seu favor.
A magia que nos encanta desde criança cria uma expectativa fora da realidade ao depararmos com o medo. Ela expande no espaço entre céus, estrelas caem em nossos mundos, onde o sobrenatural carrega uma carga negativa nas palavras que se infiltram em nossas mentes. Desde o desespero de estar sozinho num cemitério à paranoia traumática de um caso de amor rompido.
As sensações que cada lugar nos faz sentir é retratado por um ser que está em todas as horas e em todos os lugares.

    Particularmente, eu não sou uma pessoa que costuma ler livros de terror. De modo geral, eu sempre me conecto tanto com a história que estou lendo, que acabo ficando muito tensa com livros que abordam esse tipo de tema. Além do mais, sempre me arrependo, às duas da manhã, de ter consumindo conteúdos com capacidade de me tirar o sono. Dito isso, essa é a única explicação para eu ter demorado a finalizar essa leitura, já que a escrita do Claudio conduz a leitura de maneira muito fluida. O livro traz 24 contos e todos eles conseguem ser muito diferentes uns dos outros. São eles:

O Amor de Suzane

O Herdeiro

Um Enterro

A Possessão de Teodora

O Espelho

O Mistério das Cinco Luzes

A Maldição Vodu

Um Nome para Sua Alma

As Noites do Desespero

Uma Velha Senhora

O Conde Vai Voltar

Sentinela da Noite de Vidro

O Vazio 

O Ritual

Ninguém

O Trem

Os Sonhos de Liz

Os Olhos de CATu

A Fotografia

A Janela do Silêncio

O Cavalo

Visões de um Chamado

Os Lobos Cadáveres

Do Lado de fora

O que mais me surpreendeu e agradou sobre o livro é que os contos não são simplesmente contos assustadores que te pegam de surpresa. É bem mais do que isso. O autor traz algo de perturbador nas entrelinhas, elevando as histórias a um nível além de um livro de terror que dá sustos no leitor. Me peguei pensando em várias histórias depois de finalizar a leitura e é impressionante que eu tenha conseguido me envolver tanto com alguns personagens. Acredito que se deva, principalmente, à escrita de Magalhães que consegue aproximar o leitor da narrativa, como se os acontecimentos pudessem ter se desenrolado em qualquer lugar pelas redondezas de nossas casas. Tem um ar que se relaciona às histórias assustadoras que contávamos no portão de casa durante a infância, em noites quentes de verão.
Não vou me propor a falar sobre cada conto individualmente porque são muitos e o post ficaria imenso, mas gostaria de destacar dois que mais me deixaram intrigada:

O Amor de Suzane: é um conto sobre as consequências de um pacto com o demônio que devastaram um vilarejo, levando muitas vidas. Nesse cenário, surge uma mulher, misteriosa e que atrai a atenção dos moradores. Logo descobrimos que ela está envolvida em magia negra e que a sua relação com o vilarejo é mais profunda do que se poderia imaginar. 
Esse conto me deixou bastante impressionada pela ousadia do autor em trazer temas bastante polêmicos como relações sexuais entre parentes e sacrifício. Muitas coisas nessa história foram perturbadoras para mim, mas não conseguia parar de ler, pois o autor estruturou a narrativa de uma maneira que os segredos eram revelados em momentos chave e a curiosidade era enorme. 

Um Enterro: esse conto me deixou mais triste do que assustada. Conta a história de um menino que fora sacrificado em um ritual de magia negra e agora vagava por um cemitério com medo do seu destino. Ele tem um tipo de amizade estranha com o vigia do cemitério, que tenta todos os dias lhe contar uma história, sendo sempre impedido pelo garoto. Por fim, descobrimos que essa história era uma chave muito importante para o pequeno encontrar a sua paz. 

Contos e Lendas da Escuridão foi uma experiência completamente diferente do que eu esperava. Fico muito feliz de ter tido a oportunidade dessa leitura proporcionada pela Editora Djinn, caso contrário, eu nunca teria tido contato com a escrita de Claudio Magalhães, a qual me agradou bastante e quebrou vários tabus que eu tinha sobre esse gênero literário. 


domingo, 7 de junho de 2020

OS 12 SIGNOS DE VALENTINA, Ray Tavares

"Talvez o que tire o nosso sono atualmente seja o motivo de gargalhadas no futuro, mas até esse dia chegar, tudo parece ser tão intenso"


    Os 12 Signos de Valentina é um livro nacional da autora Ray Tavares, publicado inicialmente pelo Wattpad e republicado pela Galera Record, o que ocasionou nessa capa que é a coisa mais linda no meu aplicativo do Kindle essa semana. 
 
Primeiramente, gostaria de dizer o quanto fico orgulhosa de ver jovens autores, com jovens personagens, tomando espaço na literatura. Ainda é muito comum o preconceito entre os novos leitores no que se fala de literatura nacional e é muito bom e inspirador ver o trabalho desses autores sendo reconhecido e crescendo cada vez mais. 

Editora: Galera | Páginas: 395 (ebook) | Ano: 2017 | 1ª Edição | Romance

Os 12 signos de Valentina conta a busca de Isadora pelo signo par perfeito. Enquanto faz um trabalho para a faculdade, decide experimentar cada um dos 12 signos do zodíaco, à espera do libriano perfeito. O problema é que Isa havia sido traída pelo namorado com quem se relacionou por 6 anos e ela vai perceber que se desapegar dos danos desse término não é tão simples como gostaria, ela só tem uma certeza: seu relacionamento terminou porque os signos eram incompatíveis e não quer um pisciano na sua vida nunca mais. 



Fiquei um tanto impressionada com a maturidade dos personagens apresentados por Ray. Claro que eles fazem besteiras e em alguns momentos eu tive vontade de dar uma sacudida em Isadora, mas, de modo geral, ela aprende com os erros e vai amadurecendo, percebendo as consequências de suas escolhas. 
Isadora é muito desconstruída. Tomou sua decisão de criar o blog para contar a experiência com os signos e, mesmo recebendo críticas, não mudou o seu ponto de vista de que era livre para fazer o que quisesse e ninguém tinha absolutamente nada a ver com isso. Além disso, preciso falar de Andrei, que é o cara mais maduro que já presenciei na literatura, sério. Não é de se criticar que tenha mexido tanto com a cabeça da nossa querida personagem principal. 

Não posso deixar de mencionar que Ray Tavares traz, de maneira bem natural e leve, questões importantíssimas como privilégios, consequências de drogas, adoção. Além disso, a escrita e a história são bastante fluídas, o que tornou a leitura muito rápida e, sinceramente, é impossível não devorar o livro em poucas horas. Com algumas falas que poderiam facilmente ter sido ditas por mim, e bastante humor, Os 12 signos de Valentina conquistou meu coração.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA, Angie Thomas


“Às vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo.”

É muito comum que eu leia um livro e ele me acompanhe por muito tempo, retornando à minha mente várias e várias vezes e em momentos diversos, bizarros, inoportunos e lindos. Sempre procuro incluir nas minhas leituras histórias que possam contribuir para me tornar uma pessoa melhor e foi assim que O Ódio que Você Semeia entrou na minha biblioteca  virtual essa semana e sei que será um desses livros que continuam voltando aos pensamentos.
Se você não foi abduzido na última semana, com certeza sabe de todas as movimentações que têm acontecido em torno dos temas raciais e o tanto de discussões importantíssimas que vêm sendo levantadas com a tag Black Lives Matter. Como um Blog Literário, esse post não poderia ser nada menos do que sobre um livro e quis buscar o livro mais contextual ao momento possível.

“Já vi acontecer um monte de vezes: uma pessoa negra é morta só por ser negra e o mundo vira um inferno. Já usei hashtags de luto no Twitter, repostei fotos no Tumblr e assinei todos os abaixo-assinados que vi por aí. Eu sempre disse que, se visse acontecer com alguém minha voz seria a mais alta e garantiria que o mundo soubesse o que aconteceu. Agora, sou essa pessoa, e estou morrendo de medo de falar.”

Editora: Galera Record | Páginas: 438 (eBook) | Ano: 2017 | 1ª Edição | Temas Sociais

O Ódio que Você Semeia conta a história de Starr, uma jovem negra que vive duas realidades distintas diariamente: é estudante de uma escola particular em que a maioria é composta de brancos e ricos, mas a sua vida pessoal acontece em um bairro de condições financeiras mais simples em que predomina a cultura negra. Starr transita entre as duas partes de sua vida com excelência e bem quando questionamentos, sobre sua identidade e o seu real lugar, começam a surgir, ela presencia o homicídio do seu melhor amigo em uma abordagem policial da qual ela se torna a única testemunha. A partir daí, sua vida nunca mais será a mesma. Sofrendo diversas influências depois do ocorrido, diversas reflexões tomam conta de seus pensamentos e ela percebe que as atitudes precisam ser maiores.
Não é difícil se conectar com os sentimentos da protagonista, mesmo que não vivenciemos as mesmas experiências que ela. Não é um livro leve, há uma tensão muito bem construída e que tem muita força por saber que não se trata de uma simples narrativa, mas da vivência que muitas pessoas presenciam e sentem na pele todos os dias. As reflexões que Angie traz são muito necessárias e não podem ser ignoradas. Não há mais espaço na sociedade para aceitarmos discursos e ações que segregam. 
Apesar do tema difícil, a leitura flui muito bem. Starr narra sua vida de uma maneira que desnuda o racismo estrutural e as pequenas atitudes preconceituosas que crescem e se tornam algo maior, mais cruel e mortal. Esse livro deveria estar em todas as salas de aula do Ensino Médio dado o seu potencial para contribuir na formação de gerações mais justas, unidas e, verdadeiramente, humanas.
E TEM FILME!!!
Uma grande oportunidade para engajar na leitura é assistir o filme, que tal adicionar à sua lista? Clica na foto abaixo para assistir o trailer:

 ☛ Alguns sites para ficar mais informado sobre a Cultura Negra:

A Cor da Cultura | Revista Raça Brasil | Mundo Negro | Fundação Cultural Palmares 


quarta-feira, 27 de maio de 2020

EM ALGUM LUGAR NAS ESTRELAS, Clare Vanderpool

"Minha mãe tinha razão. Nossas vidas são todas entrelaçadas. É só uma questão de ligar os pontos."


     Fazia um tempo que eu queria adquirir uma obra publicada pela Darkside porque, vamos falar a verdade, as edições são todas maravilhosas. Em Algum Lugar nas Estrelas é um livro tão bonito, visualmente, que arranjei um lugarzinho especial para ele na minha estante. Uma verdadeira obra de arte que me surpreendeu desde a capa e ilustrações lindas, à qualidade do material das páginas. Dá pra sentir o amor com a obra e isso faz a leitura ser ainda mais agradável. 

Editora: Darkside | Páginas: 288 | Ano: 2016 | 1ª Edição | Aventura e Fantasia | Capa Dura

    O livro conta a história do menino Jack que, ainda sofrendo pela morte da mãe, vai viver em um internato enquanto seu distante pai cumpre suas missões na marinha durante a segunda guerra mundial. Jack tem algumas dificuldades de adaptação que o levam a se aproximar de Early, um menino estranho que não comparece às aulas que não o interessam e que conta uma história através do número Pi. As histórias de Early vão muito além do que       Jack imagina e logo os dois partem em uma aventura repleta de emoção e imaginação. 
A leitura desse livro me aqueceu o coração. É lindo o desenrolar da amizade de Jack e Early e a maneira como Jack vai aprendendo a respeitar as peculiaridades da personalidade de Early e também o modo de lidar com essas estranhezas. É uma verdadeira lição de respeito e tolerância para uma sociedade que mais exclui do que aproxima.

   Um alerta: não espere uma narrativa extremamente realista, o livro permite uma liberdade imaginativa muito grande e em vários momentos me questionei se a situação estava mesmo acontecendo ou era fruto da imaginação dos garotos. 

    Eu não poderia recomendar menos essa obra. É o tipo de livro que deveria reunir a família e os amigos para conhecer junto, se encantar junto. Nem mesmo tenho palavras para descrevê-lo completamente, é necessário sentir para entender. 

Fiquem com algumas imagens dessa edição maravilhosa
Um beijo e até a próxima!!!


 








sexta-feira, 22 de maio de 2020

Cinco livros em Cinco dias: é possível?

Essa semana decidi reativar e atualizar o meu perfil no Skoob e percebi duas coisas: 

1º: Eu cheguei a ler 150 livros em um ano; 

2º: Nas férias eu costumava ler um livro por dia; 

Pensando nessas duas coisas e na dificuldade que eu tenho encontrado em retomar o meu hábito de leitura depois da faculdade (que foi o que mais me afastou dos livros), decidi me desafiar a ler 5 livros em cinco dias e, sim, foi possível! Estou muito feliz de ter descoberto, hoje, que já sinto falta da leitura quando demoro muito a pegar uma nova obra e que o meu tempo lendo foi muito mais produtivo e satisfatório do que as horas que eu vinha passando nas mídias sociais. Sem mais delongas, vamos aos livros: 

TODOS NÓS VEMOS ESTRELAS: Trombei com esse livro no Amazon Prime de maneira completamente aleatória e decidi dar uma chance. A narrativa é sobre uma garota reclusa no mundo dos livros que acaba vivenciando diversas situações ao lado do personagem do seu livro favorito. Fiquei um pouco decepcionada com a leitura porque o livro tem um grande potencial que não é muito aproveitado. As referências às sagas famosas são um ponto alto.

 

VERITY: Já saiu resenha no Blog sobre a obra de Collen Hoover e devo dizer que Verity foi uma das melhores leituras dessa semana. Me senti eletrizada o tempo todo acompanhando a trajetória de Lawer enquanto ela descobria os segredos em torno de Jeremy, sua esposa e as misteriosas perdas pelas quais passaram


EM ALGUM LUGAR NAS ESTRELAS: Esse foi o livro mais lindo que tive o prazer de ler nesse desafio. É Encantador observar o desenrolar da amizade dos meninos Jack e Early e perceber as nuances da personalidade de Early e o que elas significam. Além de ser uma aventura (meu gênero preferido), o trabalho da Editora Darkside foi incrível, tornando o livro uma verdadeira obra de arte.


OS 12 SIGNOS DE VALENTINA: Divertido, Clichê, Leve. Esse livro foi a melhor escolha possível para uma quinta feira em que eu já estava um pouco cansada de tanta leitura (to desenferrujando). A autora traz uma narrativa agradável e o desenrolar de um romance que acaba se mostrando bastante maduro. De maneira sutil, insere algumas reflexões importantes para os dias atuais e isso não tira a leveza do livro em momento algum. 


TUDO E TODAS AS COISAS: Esse é um livro que me impressiona pela maturidade da personagem principal em aceitar as limitações que a sua doença a impõe. Claro que o romance com Olly é a coisa mais doce que se poderia esperar do primeiro amor de uma garota que nem mesmo tem contato com o mundo externo à sua bolha, mas o final me arrasa. Teria sido mais emocionante se eu não tivesse visto o filme antes, mas ainda assim, uma leitura maravilhosa para fechar uma semana tão cheia. 


E aí, topa o desafio? 
Um beijo e até semana que vem!

P.S.: Segue a gente no Instagram e acompanhe todas as novidades do mundo literário: instagram.com/prateleirasdeaquarela/

quarta-feira, 20 de maio de 2020

VERITY, Colleen Hoover


Editora: Galera Record | Páginas: 320 (eBook) | Ano: 2020 | 1ª Edição | Suspense | +18

Primeiramente, precisamos alertar que esse é um livro de classificação +18. Ou seja, se você é menor de idade, pare por aqui e siga para outras leituras divulgadas no blog.

    Verity é um New Adult da autora Colleen Hoover, famosa por escrever romances com uma temática mais hot e voltada para um público mais velho. Essa obra, no entanto, não se trata de um simples romance. Hoover se aventurou e trouxe um suspense intenso e enigmático para rechear as 320 páginas que devorei em poucas horas. O livro conta a história de Lowen, uma escritora pouco conhecida que é contratada para finalizar a série de livros muito famosa escrita por Verity antes que ela sofresse um acidente que a deixa debilitada e impossibilitada de seguir com as publicações. Lowen, então, passa um tempo na casa da autora tentando desvendar seus planos para as sequências dos livros e, enquanto se vê envolvida por Jeremy, marido de Verity, suas descobertas vão muito além da ficção e ela se dá conta de que o mistério em torno da família é muito maior do que ela imaginava. 
    Minha interação com Verity foi de vício. Não consegui largar o livro desde o momento em que comecei a leitura até a finalização e isso se deve, com toda certeza, à escrita maravilhosa de Collen Hoover. Sua narrativa é fluída e envolvente, fazendo com que cada página seja intrigante. Apesar disso, achei o casal principal pouco interessante e com um desenvolvimento fraco, sem muita química. No entanto, isso não torna a leitura menos agradável, uma vez que o ponto alto do volume são os capítulos do manuscrito em que vemos a história pelo ponto de vista do vilão, o que foi extremamente estimulante e também perturbador. Sim, perturbador. Várias emoções são despertadas durante a leitura e, em alguns momentos, senti a necessidade de fechar o livro e dar uma respirada antes de seguir em frente. 

     Quando achamos que acabou...

    Finalmente, chegando perto de encerrar o livro, respiramos com alívio, aquela satisfação comum de ver o personagem terminando sua jornada. Mas não acabou. Honestamente, eu já esperava que o livro finalizaria com um Plot Twist, mas, com certeza, não imaginava algo tão perturbador como o que foi proposto pela autora. Por fim, fica o questionamento: Qual é a verdade?





terça-feira, 12 de maio de 2020

FINALMENTE LI "A RAINHA VERMELHA"

"VEJO UM MUNDO NA CORDA BAMBA. SEM EQUILÍBRIO, ELE CAI"


Editora: Seguinte | Páginas: 399 (ebook) | Ano: 2015 | 1ª Edição | Ação e Aventura

    A Rainha Vermelha (Red Queen no original) é o primeiro de uma série de livros da autora norte-americana Victoria Aveyard. Lançado em 2015, é o livro de estreia da escritora e foi traduzido para 41 idiomas e arrebatou milhares de leitores desde sua publicação.

    Acompanhamos, a partir do livro, a trajetória de Mare em um mundo dividido em que vermelhos são subjugados, enquanto prateados detém o poder, não só da sociedade, mas também em diversas manifestações de dons extraordinários que vão desde manipulação de fogo à própria manipulação mental. Nesse cenário, Mare é uma vermelha que vive à sombra do momento em que será recrutada para o exército, assim como seus irmãos mais velhos. Entre tentar evitar o recrutamento de seu amigo mais próximo e, também, o próprio, Mare se vê em meio  a prateados e todo o seu sistema de governo que vem sendo ameaçado por ataques rebeldes de vermelhos que se denominam Guarda Escarlate. Como se não bastasse, Mare descobre poderes que não deveriam ser dons de vermelhos e isso pode ser a sua ruína. 


    Preciso ser honesta e dizer que não li A Rainha Vermelha antes por puro receio, talvez ciúme, de que fosse apenas uma nova versão de A Seleção (Kiera Cass).Tive uma surpresa agradável ao descobrir que apesar das comparações e das semelhanças - comuns em distopias - os livros não tem nada de muito igual, além da luta por uma sociedade mais justa. Não posso deixar de notar que as questões de igualdade pautadas pelo livro são muito atuais e uma reflexão necessária, principalmente nesses tempos de pandemia em que as desigualdades sociais ficaram ainda mais evidentes.
  Victoria Aveyard traz uma leitura magnética, os acontecimentos seguidos e surpreendentes me fizeram querer devorar cada página, buscar as respostas para o inesperado que me aguardava no próximo capítulo. Há uma sequência de ação e toda a revolta da personagem principal não desaparece apenas por estar entre os prateados, na verdade, ela cresce e Mare vai mostrando o quanto é forte e não tem medo de erguer a sua voz. Para os que esperam romance, mesmo que ele esteja presente, não é o foco dessa leitura e é isso que mais o diferencia de A Seleção, pois, enquanto este foca no desenvolvimento do relacionamento de America e Maxon, A Rainha Vermelha foca na revolução. 
   Por fim, relembrando algumas críticas, muitos disseram que o livro é fraco em ambientação e peca em faltar com detalhes descritivos. De fato, a narrativa não é carregada de muita descrição, no entanto, considerei um ponto forte por deixar espaço para que o próprio leitor construa a sua imagem daquele universo e seus habitantes. Outro tópico que me atraiu na leitura foi o desenvolvimento de subtramas que transitam entre o relacionamento da rainha com os filhos, dos filhos entre si, o questionamento acerca das casas que compõe o círculo social dos prateados e a própria Guarda Escarlate, que vai ganhando mais espaço enquanto avançamos na leitura.  Para quem procura uma leitura fluída, dinâmica, com bastante ação, A Rainha Vermelha é indispensável. 


sexta-feira, 24 de abril de 2020

HISTÓRIAS CURTAS DO SÉTIMO UNIVERSO, por Leandro Zapata

Se você está procurando por uma leitura completa, acabou de encontrar!

    Histórias Curtas do Sétimo Universo é uma  Coletânea que reúne quatro contos diferentes, sendo dois deles, originalmente, publicados pelo Wattpad e outras duas histórias inéditas. O livro está sendo lançado pela Editora Djinn, distribuída pelo selo Ouroborus, o ebook está sendo estreado essa semana com uma promoção de lançamento imperdível: estará disponível na Amazon gratuitamente nos dias 25 e 26/04. Acompanhe pelo site

Sobre o autor: Leandro Zapata é um escritor brasileiro em ascensão. Escreveu seu primeiro livro por volta de 2010 e, desde então, não parou de escrever, desde livros à histórias curtas. Sua popularidade cresceu através do Blog Um dia frio e de seu perfil no Wattpad. Você pode saber mais sobre o autor e suas obras através do site: leandrozapata.com/.


Histórias Curtas do Sétimo Universo:  Páginas: 392 (ebook) | Ano: 2020 | 1ª Edição | Fantasia

    A coletânea a de Zapata é dividida em quatro contos: Apófis: o Deus do Caos, Oito Sombras, A Busca de Sakura e O Preço de uma Lembrança. O que eu achei mais interessante, nesse livro, foi a maneira como você consegue viajar entre um conto e outro sem perder o ritmo da leitura. Em um momento você está no Egito, tentando desvendar com os personagens uma maneira de impedir Apófis de disseminar o caos. Em seguida, está no Japão, descobrindo a força de Sakura e enfrentando os desafios ao seu lado, que não terminam no segundo conto e a encontramos mais uma vez no terceiro conto. Pragas, nuvens ácidas e até organizações secretas habitam a trajetória de Sakura e muitas surpresas aguardam o leitor que decidir se aventurar ao seu lado. Finalizando, viajamos pro Canadá para conhecer Sophia, aprisionada em sua própria mente, a artista é assombrada por pesadelos que a levam em uma trajetória para desvendar os mistérios de seu próprio subconsciente e memórias perdidas. 
    O Sétimo Universo traz uma rede de referências muito bem trabalhadas que, inclusive, despertam no leitor a vontade de saber mais, não apenas sobre aqueles personagens e suas histórias, mas também sobre as mitologias e obras que inspiram e dão pano de fundo para a construção dos contos. Além disso, Leandro Zapata conseguiu construir histórias eletrizantes em que os acontecimentos seguidos não permitem que o livro se torne entediante pois sempre há uma nova surpresa na próxima página. A participação de Ana Luísa Tavares encaixou muito bem com o que Zapata se propôs, enriquecendo ainda mais sua obra. Leitura imperdível para os fãs de mitologia e aventura de plantão.

terça-feira, 21 de abril de 2020

RÁDIO SILÊNCIO

Olá. Espero que alguém esteja ouvindo...


Você já começou a ler um livro e teve uma opinião completamente equivocada sobre o que ele era na realidade? Foi o que aconteceu comigo ao iniciar a leitura de Rádio Silêncio.

Editora: Rocco Jovens Leitores | Páginas: 356 (ebook) | Ano: 2019 | 1ª Edição | Young Adult

Rádio Silêncio é o segundo livro da coleção "Caindo na Real" da autora e ilustradora britânica Alice Oseman. O livro narra a história de Frances Janvier, uma garota obcecada com os estudos, prestes a terminar o colegial e vivendo as angústias da tentativa de entrar na faculdade com a qual sonhou durante toda a sua vida. A trajetória de Frances é bastante solitária, o que a leva a se refugiar em um podcast chamado Universe City, narrado pela voz misteriosa do auto denominado Rádio Silêncio. A sua paixão pelo podcast a leva a produzir inúmeras artes em referência ao mesmo e isso leva ao primeiro contato de Rádio com o seu perfil denominado Tolouse. Simultaneamente aos acontecimentos em torno de Universe City, Frances se vê dia a dia mais próxima de seu vizinho Aled e o desenrolar dessa amizade revela diversos segredos que estiveram encobertos por anos, desde a relação conturbada de Aled com a mãe à real identidade do criador de Universe City.
Esse é um livro que traz uma gama de representatividade que eu nunca havia visto antes e que é trabalhada de uma maneira tão natural que, muitas vezes, me distraía do fato de estarmos falando de tópicos tão sensíveis. Temos aqui uma protagonista negra com amigos de descendências indiana e coreana, por exemplo . Além disso, os personagens são descritos de todos os tipos, cores e formas, sem nunca tornar isso uma questão problemática, simplesmente apresenta personagens diferentes entre si, assim como no mundo real. A questão da sexualidade também é muito bem explorada, trazendo personagens que transitam entre a bissexualidade, heteronormatividade, assexualidade, demissexulidade. 
Outro tema importante abordado pela autora é a depressão e os relacionamentos abusivos. É muito interessante observar o desenrolar da história de Aled, seu conflito sobre estar na faculdade e a relação com a mãe completamente controladora. É curioso que quanto mais confusos seus sentimentos ficam, mais ele se isola e posteriormente descobrimos que esse isolamento vem de sua necessidade de fugir de situações problemáticas.


Muitos leitores podem ter uma ligação imediata com as emoções e conflitos vivenciados pelos personagens. Não são conflitos abstratos, que presenciamos apenas nos noticiários, são conflitos que a maioria dos jovens inseridos na sociedade contemporânea vivenciam.Vai conseguir passar pra faculdade desejada? Realmente quer fazer faculdade? Quer mesmo fazer esse curso? São dilemas, muitas vezes menosprezados, que causam uma bagunça completa no psicológico de quem está deixando a adolescência pra trás e encarando um mundo completamente novo à frente. Acima de tudo, enxergo Rádio Silêncio como um livro que fala sobre descobrir a liberdade em ser quem você realmente é, gostar daquilo que realmente gosta e fazer as escolhas que você quer fazer, não as que são impostas. Super recomendo a leitura, além de toda a profundidade, é uma leitura bastante fluída e com um final bem interessante considerando a contemporaneidade da obra.

Arte de mstudiess, acesse em: https://mstudiess.tumblr.com/post/181437899096/this-was-part-of-a-project-for-school-i-read

quinta-feira, 19 de março de 2020

Resenha: StepSister (Jennifer Donnelly)

“Qual o preço da liberdade de ser quem você realmente é?”


    Falar sobe StepSister não é uma tarefa fácil. A primeira coisa  que eu sinto necessidade absoluta de comentar é o trabalho incrível que foi feito na capa do livro, o que já te faz sentir o tom sombrio da história que será contada. Costumamos dizer que não se deve julgar o livro pela capa, contudo, em casos como desta obra, a capa é uma introdução e um atrativo que condiz muito com a realidade da leitura que Jennifer Donnelly propõe, além de ser belíssima. 
    StepSister, como se anuncia, é um livro de fantasia que se passa no universo dos contos de fadas. É protagonizado por Isabelle, uma das meias-irmãs de Ella - a quem conhecemos, popularmente, por Cinderela. Isabelle e sua irmã são retratadas em muitas versões do conto de Cinderela como as "irmãs feias", pois mesmo rodeadas de luxos, as irmãs sempre eram ofuscadas pela beleza e gentileza de Ella. Além dos personagens já conhecidos (a madrasta, as irmãs, Cinderela, o príncipe), somos apresentados a novas figuras, como as Irmãs Fate, responsáveis por escreverem os mapas do destino da vida das pessoas, Chance, que pode ser descrito como o antagonista às irmãs fate, uma vez que seu grande objetivo é fazer com que Isabelle tenha um desfecho melhor do que o previsto pelo destino, e Tanaquill, a fada madrinha que ajuda Ella a ir ao baile e também a pessoa a quem Isabelle recorre, acreditando que se a fada a fizesse bela, todos os seus problemas desapareceriam, mas é claro que não poderia ser assim tão simples. Além de seus problemas pessoais, a França está passando por um momento de guerra e acompanhamos o desenrolar desse conflito paralelo à Isabelle.


    Se até aqui você está interessado em StepSister, precisa saber que é uma leitura com uma crítica social muito bem trabalhada. Para qualquer pessoa que reconheça os benefícios da beleza na sociedade, é muito perceptível que, apesar de se passar no século XIX, é uma obra extremamente atual. Acompanhamos, a cada página, a agonia de Isabelle e sua irmã Octávia, por não serem bonitas o suficiente para se casarem com o príncipe, mesmo que para isso tenham cortado partes de seu próprio corpo afim de calçar o sapato de cristal perdido por Ella na noite do baile. Porém, mais do que o sofrimento por não conseguirem o casamento, a história reflete constantemente em torno de todas as coisas em que o padrão de beleza interferia na vida das garotas, para o bem ou para o mal. Quantas coisas Isabelle e Octávia poderiam ser se não fossem apenas e simplesmente "feias"?

"Ella que é bonita. Você e eu somos as meias-irmãs feias. E, assim, o mundo reduz, nós três, ao nosso menor denominador comum"

    É automático seguir a leitura relacionando-a com a nossa vida no século XXI. Muitas leitoras podem ter se visto na pele da protagonista por diversas vezes. Ou até mesmo na de Ella. Fato é que a aparência ainda dita comportamentos e oportunidades. StepSister nos leva a acompanhar Isabelle em suas descobertas sobre si mesma, na percepção de que ela não é apenas o seu rosto e ela pode muito mais do que arranjar um casamento por beleza, agradando aos olhos de algum homem, ou apodrecer em uma casa velha, como sua mãe a fazia acreditar. 


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

As Grandes Sagas e a Conquista de Novos Leitores

O Fenômeno de Arrebatamento Literário em tempos de Internet

      Se você tem entre 12 e 25 anos, é muito provável que já tenha ouvido alguém dizer que é Potterhead ou Semideus. É ainda mais provável que você já tenha dito isso ou algo semelhante. Entre 2011 e 2015 era muito comum encontrar jovens compartilhando suas leituras em seus perfis na internet. Era rotina ver adolescentes com suas edições de Harry Potter (J.K Rowling) e Percy Jackson (Rick Riordan) pelos cantos das escolas ou no transporte público. É considerável que as Grandes Sagas tem um atrativo, nem sempre bem explicado, mas que se pode sentir. Compreendo esse envolvimento como uma sensação de pertencimento, a qual eu costumo chamar de Arrebatamento Literário.

Trecho de edição Ilustrada de "Harry Potter e a Pedra Filosofal"
      Não seria pretensioso dizer que Harry Potter abriu as portas para a Literatura a essa geração, muitas vezes chamada, pelos leitores, de Geração Harry Potter. J.K Rowling construiu um universo tão imensamente mágico que é fácil encontrar pessoas que leram a saga toda em uma semana, imergindo completamente em seu mundo fantástico. Não é diferente no que se refere a Percy Jackson, saga que embarcou na fórmula utilizada por Rowling e ganhou proporções gigantescas conforme os lançamentos de novos volumes.
Livro "Percy Jackson e os Arquivos do Semideus"
A grande diferença entre as duas sagas pode ser observada em seu sucesso no cinema. Harry Potter conquistou público no cinema quase tanto quanto na literatura e esse público logo migrou para os livros. Esse imenso sucesso fez com que, em determinado momento, a autora chegasse a alcançar o posto de segundo livro mais lido no mundo, ficando atrás, apenas, da Bíblia. Já a saga de Riordan, causou uma imensa decepção nos fãs, que não encontraram nos filmes produzidos a mesma conexão que tiveram com os livros - resultado de produções tão infiéis aos livros que muitos se recusam a enxergar como uma adaptação. Apesar disso, Percy Jackson continua crescendo, expandindo sua saga inicial para outros títulos.

      O formato de série literária logo ganhou outros autores e temas e a popularidade foi tão crescente que houve um resgate de séries antigas desconhecidas pelas novas gerações. Não demorou para presenciarmos o surgimento de Jogos Vorazes, Crepúsculo, A Seleção e muitos outros que conquistaram seu público. A grande divulgação na internet tornou perceptível que os jovens se interessam por esse tipo de leitura e em certo momento, passava a sensação de que todos estávamos lendo as mesmas coisas e é disso que se trata o Arrebatamento Literário: Não só estávamos lendo os mesmos livros e assistindo os mesmos filmes, também formamos grupos para debater e teorizar em torno dessas obras. Logo estávamos tão conectados que saímos das páginas e das telas para tornar o contato real. Quantos registros de capturas à bandeira e encontros de bruxos podemos encontrar em uma rápida busca no Google? Esse vínculo e conexão só foi possível pela imersão combinada de leitura, internet e encontros. 


"- Vai ser muito diferente no próximo verão - disse eu. - Quíron espera que tenhamos o dobro de campistas.
- É - concordou Grover -, mas este continuará sendo o lugar de sempre."  


Percy Jackson e O Último Olimpiano


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Impressões iniciais de "I'm not okay with this"

O que esperar da nova série da Netflix? 

       Depois de concluir The Good Place me senti muito órfã de uma série que apresentasse um formato tão agradável de ser assistida. I'm Not Okay With This não preenche completamente esse espaço, pois traz um drama muito maior do que o que vemos em The Good Place (que tem um tom mais leve e divertido nas primeiras temporadas). Entretanto, posso afirmar que a nova produção do streaming tem lá o seu magnetismo. Preciso admitir que tenho certa satisfação em assistir séries com episódios curtos - algo que vem da minha adolescência em que assistia temporadas completas de animes em um final de semana. I'm Not Okay With This traz episódios com cerca de 20 minutos e consegue desenvolver as questões dos episódios sem torná-lo cansativo e sem correr com os acontecimentos. A série é baseada na Graphic Novel de Charles Forsman e sua adaptação para roteiro é feita por Jonathan Entwistle, já conhecido pelo o público da Netflix a partir de The End of The F***ing World.

            

       A trama gira em torno de Sydney Novak - descrita por si mesma como uma "garota branca sem graça de 17 anos" - que tem problemas em controlar e até mesmo compreender sua personalidade e sentimentos. A história se desenvolve em um período posterior ao suicídio de seu pai e é perceptível desde o início o quanto essa perda a afetou. A relação de Sydney com a mãe não é boa, resultando em cenas de ataques verbais mútuos que mostram o quanto as duas se sentem distantes em relação à outra. Em contrapartida, a relação com o irmão mais novo é fofa, mostrando companheirismo e aquela proteção que muitas vezes faz falta quando se retrata adolescentes com irmãos. A melhor amiga de Sydney é Dina, uma garota relativamente popular e é a pessoa mais próxima da protagonista no início da série. no entanto, as coisas mudam quando ela começa um relacionamento com Brad Lewis que, apesar da popularidade, é visto por Sydney como só mais um babaca. O afastamento de Dina leva Sydney a se aproximar de Stanley Barber: um cara meio esquisito que não tem vergonha de ser ele mesmo, marcando presença nos episódios decorrentes. 
     Os episódios iniciais mostram o desenrolar das relações de Sydney e suas descobertas em torno de suas emoções e sexualidade, não muito diferente de séries como Sex Education ou a própria The End of The F***ing World ou . Entretanto, Syd começa a perceber coisas estranhas acontecendo ao seu redor e a se perguntar se ela estaria causando-as. É interessante observar o crescer das manifestações de poder à medida em que as emoções da personagem vão ficando mais intensas e descontroladas. 
       Repleta de referências, que vão desde Carrie: A Estranha a Stranger Things, I'm Not Okay With This é uma série confortável de assistir com seus 7 episódios curtos. Talvez falte um pouco de ousadia, - uma vez que a história é contada de maneira bem simples - contudo, a série deixa espaço para um futuro desenvolvimento em que explore as complexidades dos sentimentos e situações que os personagens vivenciam. Por enquanto, resta esperarmos por uma renovação. Assista ao trailer:














**Todos os direitos reservados à Netflix.