quinta-feira, 22 de julho de 2021

26 DE JULHO, save the date!!!

APÓS SUCESSO DE CONTO, ROBERTA DE SOUZA LANÇA ROMANCE HOT "ELLA"

Com cenas quentes e intensas, a obra promete questionar tabus sobre a liberdade sexual feminina e o julgamento sobre quem ousa viver a própria vida sem seguir os padrões sociais.

Roberta de Souza é um dos nomes mais promissores da literatura brasileira atual e eu posso provar! Autora de livros como Meninas de Trinta 1 e 2, Cavador do Infinito e Morgana da Figueira do Inferno, a jornalista já mostrou que versatilidade não é um obstáculo para sua escrita e exibe, agora, outra face de sua criatividade ao explorar a história de Ella, protagonista do livro homônimo com lançamento previsto para o dia 26 de julho, em eBook.
Para os leitores, o lançamento não é o primeiro contato com a personagem. Em janeiro chegava na Amazon "Ella, o conto", como uma pequena introdução à personagem. Perguntada sobre a decisão de transformar o conto em livro, Roberta diz que "a verdade é que a ideia sempre foi escrever um livro, mas como era meu primeiro contato com a literatura hot, decidi primeiro fazer um conto, para ver se daria certo. E deu tanto certo que minhas leitoras lindas não sossegaram enquanto não contei que o livro estava pronto".
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O romance apresenta o público a Ella, uma mulher que impacta com o seu magnetismo e beleza, mas que carrega um talento musical ainda maior. Ao longo da narrativa, a protagonista irá descobrir que não é tão simples ter a liberdade que sempre cultivou e que é ainda mais difícil viver as próprias escolhas quando há holofotes sobre si e um julgamento sem fim sobre todas as suas ações. A experiência de Ella no meio artístico não é singular e reflete muito do que vemos cotidianamente, principalmente nas redes sociais e no que chamamos hoje de cultura do cancelamento. Apesar disso, a autora diz não ter uma inspiração concreta para criar esse cenário:

"Sinceramente? Não sei [de onde veio a inspiração]. A história veio pronta, eu apenas abri minha mente para recebê-la e coloca-la no papel... Já estava tudo ali."


Todo o julgamento de que falamos não se restringe apenas ao meio musical. Dentro da literatura ainda é difícil falar sobre livros hot sem que alguém torça o nariz e reduza as obras ao simples detalhe de conterem cenas de sexo. Roberta de Souza admite ter tido receio de se arriscar nesse tipo de literatura e acrescenta: "Listar o livro apenas como literatura hot é limitar demais o potencial da obra. Considero a história como um belo drama com um apelo forte quando falamos de liberdade e uma grande interrogação sobre o peso do julgamento da massa e da mídia na vida de pessoas públicas. As cenas hot chegam como temperos especiais para dar a liga em toda a história. E para falar sobre sexo, eu me vali de toda a poesia que existe em minha escrita, justamente para ser algo natural no enredo."

É fato que o toque poético na escrita de Roberta dá todo um toque único à sua obra. Inclusive, foi um dos aspectos mais destacados nas avaliações do conto Ella na Amazon. Não há dúvidas de que muito mais está por vir na obra completa, que promete intensidade e detalhes não revelados antes sobre a trajetória da protagonista. Ella chega na Amazon em eBook no dia 26 de julho, mesmo dia em que acontece a abertura de pré-venda da Edição Impressa, na Editora Serpentine, que contará com capítulo exclusivo.

Book Trailer
Sobre a autora:

Moradora de Maricá, natural de Niterói, Roberta de Souza é jornalista responsável pela Gaia Assessoria de Comunicação. Também é mãe de dois bebês lindos. Tem em seu currículo literário participação e coautoria em 9 Antologias e 3 Coletâneas. Publicou 4 livros solos e 1 biografia. Foi homenageada com a Medalha comemorativa dos 200 anos da Câmara Municipal de Niterói. É idealizadora do site Balzaqueando. É membro do grupo de escritoras “Hot? Tô Dentro!. É membro do coletivo de escritores de Maricá, o “Povo do Livro”; e é membro número 002 da AILB (Academia Internacional de Literatura Brasileira).

A autora está em:

sexta-feira, 16 de julho de 2021

O ILUMINADO, Stephen King


Editora: SUMA | Páginas: 464 | Ano: 2012 | 1ª Edição | Thriller


O Iluminado é um livro de Stephen King que narra a jornada de Danny, Wendy e Jack ao se mudarem temporariamente para o Hotel Overlook onde Jack aceita um emprego de zelador depois que sua vida de professor desanda após um episódio de violência. O autor se inspirou para escrever a história após se hospedar no The Stanley Hotel no Colorado numa noite de fim de temporada em que ele e a esposa acabaram sendo os únicos hóspedes.
"Eu acordei, acendi um cigarro, sentei em uma cadeira olhando para a janela e, antes de terminar o primeiro cigarro, já tinha toda a estrutura do livro criada na minha cabeça", Disse o autor, após relembrar o pesadelo que teve naquela noite em que seu filho corria em fuga pelos corredores vazios do hotel.
Chave do quarto 217 do The Stanley Hotel, onde King se hospedou e que aparece em O Iluminado
O início da narrativa já mostra que a decisão de Jack de aceitar o emprego no Overlook é um grande erro. Isso porque percebemos de cara que ele está emocionalmente desequilibrado e tem um passado de alcoolismo e agressividade. Não bastasse isso, ficamos sabendo que o último zelador enlouqueceu, assassinou sua família e depois se suicidou, o que seria motivo suficiente pra correr pra bem longe desse lugar. Tudo isso somado ao fato de que o pequeno Danny consegue ver, ouvir e experienciar coisas sobrenaturais me parecem o combo perfeito para o desastre total e, basicamente, é isso que os aguarda no hotel em que passarão meses presos pelas nevascas e sem comunicação com o mundo externo. 


Talvez essa seja uma interpretação errônea minha, mas o que me parece é que a presença de Danny apertou todos os botões vermelhos de alerta do Overlook. Coisas estranhas começam a acontecer e Danny está sempre envolvido nos piores acontecimentos sobrenaturais. O mais curioso, no entanto, é que fiquei tão distraída com Danny que deixei Jack um pouco de lado e, quando percebi, ele não só estava vivenciando experiências paranormais como também as recebia de braços abertos, cultivando o espírito e a força do verdadeiro vilão dessa história: o Overlook.

Elevador do The Stanley Hotel
Aqui reside a maestria de Stephen King: o autor consegue dar alma a lugares (algo que já havia me surpreendido em "Salem"). É como se o Hotel criasse vida, encarnando o próprio mal e corrompendo o espírito de Jack. O personagem, que começa como um homem comum com alguns problemas, vai se tornando cada vez mais desequilibrado e obcecado pelo Overlook, ao ponto de perder completamente a sanidade. É angustiante observar esse ponto de ruptura, principalmente sabendo das visões que Danny teve sobre esses acontecimentos.
Os personagens são muito bem desenvolvidos e King não tem medo de perder tempo se aprofundando em suas narrativas pessoais, o que para alguns pode ser um pouco entediante, mas, pessoalmente, acho incrível e também acredito que é o que o diferencia de muitos autores. Me compadeci demais da situação de Wendy, que não queria ir para o hotel e teve muitas dúvidas e receios no decorrer da história, mas que continuou lutando pela sua família e pela segurança de Danny. 


Não é a toa que Stephen King vem se tornando o meu autor favorito nos últimos tempos. Na minha jornada de ler toda a sua obra, não imaginava que O Iluminado pudesse ter um destaque tão grande. O livro é muito bem escrito, Quando as situações sobrenaturais começam a acontecer, é impossível largar a leitura e a conclusão da narrativa é um misto de sentimentos. 

terça-feira, 22 de junho de 2021

MORGANA DA FIGUEIRA DO INFERNO, Roberta de Souza

"Ao abrir minha vida e dividi-la com você leitor, carrego o profundo desejo de que cada um saiba o que, realmente, é um Exu. Sua essência, sua história, seu caminho"


Editora: Muiraquitã | Páginas: 120 | Ano: 2015 | 1ª Edição | Literatura Espírita

Publicado pela autora Roberta de Souza, Morgana da Figueira do Inferno é uma obra de literatura espírita e, por favor, não deixe que isso te impeça de seguir lendo este texto. Eu sei, minha família sabe e, com certeza, a Roberta também sabe o tanto que as religiões espíritas são alvo de um preconceito diário que fere, segrega e desinforma. Não deixe que essas amarras te impeçam de abrir um pouquinho a mente e conhecer um pequeno pedaço da crença umbandista através de uma história de verdadeira superação e benevolência.


A narrativa apresenta a vida e morte de Serafina, última encarnação do espírito que veio a se tornar Morgana, uma alma que veio ao mundo com dons que a permitiram praticar a caridade de maneira pura. Apesar de suas boas intenções e de dedicar sua vida a ajudar a quem quer que estivesse necessitado, não demorou para que Serafina fosse alvo da inveja, maldade e intolerância humana, o que causou seu fim trágico e resultou um desencarne difícil que a levou por lugares sombrios, repleta de mágoas e um enorme ressentimento que a deixou à beira da ruína antes de se reerguer e se tornar novamente dona de suas escolhas.


Morgana me lembra das palavras de puro amor e acolhimento que recebi dentro dentro da umbanda. A caminhada da personagem nos mostra o quanto a nossa vida pode ser alterada, ao escolhermos o caminho da caridade e revela que fazer o bem não torna os passos mais fáceis, talvez até os torne mais árduos. Mais do que isso, sua trajetória reforça que, não importa o quão difícil tudo fique e o quanto você possa se desviar do seu caminho, sempre é possível retornar à luz e fazer novas escolhas.


Não é incomum, no nosso dia a dia, ver notícias de terreiros invadidos, pais e mães de santo agredidos e até de crianças atacadas por manifestarem, de alguma maneira, a sua fé. Se tornou rotineiro. Por isso, acredito que esse tipo de literatura é essencial no combate à Intolerância Religiosa que ainda ronda uma crença tão demonizada com base na ignorância. A leitura é muito fluída e rápida, aproveita pra dar uma chance!

Entrevista da autora sobre a obra: 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Minha experiência com Acotar

Quando comecei no Bookstagram, Acotar era a série do momento. Era difícil rolar os stories sem ver gente falando sobre o quanto amavam os livros e o quanto a escrita de Sarah J. Maas era sensacional. Algumas poucas páginas foram suficientes para me convencer de que Sarah realmente tem uma escrita com um toque de feitiçaria, que prende o leitor e impulsiona na obsessão de descobrir o novo universo que se estende bem à frente em um emaranhado de palavras. Porém, após ler os três livros que, originalmente, compõem a história de Prythian, cheguei à conclusão de que para dizer que gosto da trilogia, preciso fingir que o primeiro livro não existe.

Classifiquei A Corte de Espinhos e Rosas com duas estrelas e meia. Achei boa parte do livro muito morna e a relação de Feyre com Tamlim muito artificial. Considerando que esse primeiro volume gira em torno disso, a leitura poderia ter sido arrastada, não fosse a escrita da Sarah me impulsionando a querer descobrir mais sobre pequenas informações escondidas dentro do drama do casal. Para mim, a vilã foi desperdiçada. Todo o medo que criam em torno dela culmina em uma personagem caricata e pouco crível, que por vezes tem falas que soam bobas. Admito que senti vergonha alheia de algumas frases da tão temida Amarantha.

Preciso, é claro, falar de Rhysand. É muito inacreditável como o personagem que aparece no primeiro livro é completamente oposto ao que surge em Corte de Névoa e Fúria. A sensação que eu tenho é que, de fato, é outro personagem. Enquanto senti nojo do primeiro Rhys e de todos os abusos que ele pratica com Feyre - sob a justificativa de proteger o povo dele e a ela mesma -, o que se mostra no segundo volume é o verdadeiro sonho da maioria das leitoras. O desenvolvimento do personagem é impressionante e por vezes soa perfeito demais, com ideais à prova de erros e com um altruísmo que me fez questionar muito sobre seus reais motivos que, por fim, não tinham uma segunda camada. Fiquei um pouco incomodada com a maneira que se desconstrói a imagem que criamos de Tamlim no primeiro livro. O próprio também parece ser substituído por outro personagem, cheio de uma soberba e um orgulho desagradável que eu honestamente não havia notado antes.

A grande ameaça da sequência deveria ser o Rei de Hybern, porém, só sinto essa ameaça se solidificar no terceiro, uma vez que é o fantasma de Amarantha que segue sendo o grande terror a assombrar os protagonistas. Inclusive, esse pavor que sentem da vilã derrotada e das coisas que ela fez me soou muito mais interessante do que sua performance Sob a Montanha. Feyre mergulha em um processo depressivo que foi muito bem trabalhado pela autora sem precisar dar nomes ao que ela estava passando.

Chegamos a Corte de Asas e Ruína e, finalmente, vislumbramos a guerra de fato. Apesar de haver ação nos livros anteriores, principalmente em Corte de Névoa e Fúria, todos os acontecimentos encaminham a narrativa para este momento. Temos os acréscimos de Elain e Nestha à narrativa após serem jogadas no caldeirão, resultado da traição de Tamlim. A segunda ganha um espaço enorme nos acontecimentos. Elain, entretanto, fica meio apagadinha e o dom que ela demonstra, no início, acaba se perdendo do meio para o final. (Se alguém conseguiu entender a relevância de estabelecer laço de parceria entre ela e Lucien, me explique, porque me pareceu ser só uma maneira de justificar que ele deixasse a corte primaveril.) Muitas criaturas e personagens diversos também vão sendo acrescentados ao longo das 1.778 páginas. Fiquei intrigada sobre Amren, O entalhador de ossos, Bryaxis e, principalemente, A tecelã. Sarah tem, de fato, um talento para a construção mitológica a compor o mundo que cria.

Não vou estender os detalhes sobre a história, acho que cada um precisa ver por si. Pessoalmente, foi uma leitura empolgante, apesar dos pontos que considerei críticos. Achei que a autora dá uma forçada para que as coisas deem certo e não aguento mais ver personagens serem ressuscitados, mas, de modo geral, foi divertido (desde que eu ignore a existência do livro I).


quinta-feira, 15 de abril de 2021

CONTO PARA NÃO ESQUECER, Zezé Pedroza

"...foi direto ao morro, mas ao chegar não tinha nada, tinham acabado com o barraco. Os vizinhos contaram que ele fora incendiado no mesmo dia do tiroteio. O capim estava alto e parecia que ali nunca tivera uma construção."

Conto para não Esquecer
Sinopse: Essas são histórias baseadas em fatos reais cujas protagonistas são sempre mulheres que superam com muita garra e determinação as violências sofridas por toda uma vida, dando volta por cima, apesar de dificuldades e da despreocupação de uma sociedade que claramente escolhe e privilegia o ser humano que deve ser feliz, banalizando as menos favorecidas, principalmente aquelas que, além de pobres, são NEGRAS. Entretanto, e apesar de tudo, por instinto são vencedoras e não abrem mão de seus direitos, denunciando, protegendo seus filhos, geralmente menores e dependentes. A mulher veio ao mundo para povoar a terra e não para ser usada e descartada. Subestimar sua capacidade da mulher é falta de inteligência, pois esse ser que rotulam de sexo frágil é bem mais forte do que aparenta. Portanto, ser mulher é já nascer vencedora e fazer suas escolhas, que só dizem respeito a elas, e isso não faz a menor diferença. Apesar da abordagem, os personagens desses contos são fictícios, criados pela imaginação da autora. Assim, qualquer com a semelhança com casos reais seria mera coincidência. Fazer a diferença é mostrar ao mundo a discriminação, o preconceito as mulheres, sofrem e superam. No caso da autora, é pra lembrar. Por isso, são CONTOS PARA NÃO ESQUECER.

Editora: Proverbo | Páginas: 71 | Ano: 2020 | 1ª Edição | Contos; Biografia

Com autoria de Zezé Pedrosa, Conto Para Não Esquecer reúne contos sobre diversas mulheres e suas histórias de luta dentro da realidade brasileira. As narrativas são de linguagem simples e bastante clara, chegam a gerar um impacto no leitor que é confrontado por situações tensas de forma bastante crua. Os relatos são como sentar e conversar com antigas conhecidas sobre suas histórias de vida e perceber que todas elas têm uma coisa em comum: a trajetória de batalha frente as adversidades que se contrapõe, dia a dia, aos sonhos e objetivos que carregam no peito.

A realidade do vício e do tráfico estão presentes em algumas narrativas, mostrando, de maneira escancarada, todo o sofrimento que as famílias, e principalmente as mães, precisam encarar ao ver os filhos sem envolverem em um caminho tão obscuro e que muitas vezes acaba em uma vida ceifada cedo demais.

Penso muito sobre a relevância de obras como essa e a necessidade de que se reconheça a força e a determinação que a mulher tem e tudo o que ela representa na sociedade. Conto para não esquecer inspira, emociona e entristece. Me lembra dos ideais de sororidade e de como precisamos alcançar as mulheres de realidade menos favorecida que se perdem na solidão e incompreensão de um Brasil que não olha para sua população como um todo. É preciso abraçar. 

segunda-feira, 12 de abril de 2021

TERRAÇO ACIMA DO CAFÉ, Rebeca Braga

"O mais interessante da ficção, por mais que ela seja uma fuga da realidade, é que ela imita a vida."


Publicação Independente | Páginas: 318 | Ano: 2020 | 1ª Edição | Romance

Da autoria de Rebeca Braga, Terraço Acima do Café apresenta a protagonista Bae Hara que se muda de sua cidade natal na Coreia do Sul para morar na capital Seul, buscando ficar mais próxima do novo local de trabalho e se dedicar ao mestrado. Além disso, Hara sente, secretamente, que precisa ficar um pouco distante da mãe super controladora, ainda que isso a deixe apreensiva. Ao reencontrar um antigo colega de escola, a personagem descobre o poder do companheirismo e precisa aprender a ser mais transparente com seus sentimentos para não acabar perdendo tudo. Em meio a toda uma confusão emocional, Bae Hara terá que aprender a lidar com as exigências de seu chefe, um autor famoso e de caráter duvidoso, que a sobrecarrega um tanto, e ainda se dedicar ao mestrado que sempre achara ser seu sonho. 


Apesar de não conhecer nada da cultura sul coreana (mesmo com a explosão do Kpop), gostei bastante da ambientação do livro. A autora descreve muito bem as cenas e, se você se desprender da visão americanizada, que é tão presente nas produções que consumimos, fica muito mais fácil se conectar com a aura asiática de Terraço Acima do Café. Rebeca também usa de algumas nomenclaturas e até os nomes dos personagens são essenciais nessa construção. 

Além da escrita fluida e confortável, a narrativa se desenrola em um ritmo bastante agradável. Os segredos são revelados em momentos importantes para a narrativa e o desenvolvimento dos plots se dá de maneira natural, sem deixar tudo pro final do livro e sem atropelar os fatos. A questão da dificuldade de Hara em demonstrar seus sentimentos é trabalhada de uma maneira que não te faz querer bater a cabeça dela na parede: ela dá pequenos passos durante toda a sua trajetória e não há uma mudança repentina na sua maneira de agir. Achei esse ponto muito legal porque mostra que suas reservas são verdadeiras, é uma condição que ela construiu ao longo da vida e que não se transforma com uma simples decisão. 


O relacionamento que se desenvolve entre a protagonista e Min-Ho é apaixonante. É aquele tipo de casal que você torce pra dar certo desde o primeiro capítulo. Min-Ho é divertido, é intenso, é tímido e todo um arsenal de outros adjetivos que fazem ele ser tão perfeito para Hara. É muito bonita a maneira como eles desenvolvem uma parceria e se tornam amigos antes de qualquer coisa. Além disso, ele está sempre elogiando a inteligência e a capacidade incrível que Hara tem de construir narrativas, dando força pra ela continuar fazendo o que ama e sendo fofo em 100% das vezes. 


Com personagens bem construídos, inclusive os secundários (ainda que não tenham tanto destaque), Rebeca Braga entrega um livro com o clichê que a gente ama, mas trazendo um toque especial para ele. É aquela história que você não quer parar de ler, que te faz ficar com medo de alguma coisa dar errado e, por isso, é inevitável devorá-lo para saber como termina essa história de amor e literatura. 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

MINHA SOMBRIA VANESSA, Kate Elizabeth Russell

"Muitas das minhas lembranças daquela época são difusas, incompletas. Preciso que ele preencha as lacunas, embora às vezes a menina que ele descreve pareça uma desconhecida."


⚠️ATENÇÃO: a obra contém gatilhos em torno de abuso de menores, estupro e manipulação psicológica. Leitura não recomendada a quem possa se sentir sensível a essas temáticas. 


Editora: Intrínseca | Páginas: 432 | Ano: 2020 | 1ª Edição | Drama


O livro conta a história de Vanessa, uma garota de 15 anos que, um tanto solitária, se vê envolvida pelo seu professor no colégio interno. Temos idas e vindas no tempo que mostram o passado, quando esse envolvimento acontece e o presente, em que Vanessa precisa lidar com as consequências disso e vê outras garotas que passaram pela mesma situação buscarem por justiça. A grande questão é que para a protagonista, não há justiça a ser feita, uma vez que considera todo o ocorrido uma história de amor.
A primeira metade da leitura foi muito difícil pra mim. O "relacionamento" que se desenvolve entre Vanessa e o professor Strane é muito explícito e as manipulações psicológicas que ele faz com ela são muito reais, tanto que o leitor se sente enojado. Apesar da personagem acreditar que o ama e que quer fazer aquilo, o texto de Russell deixa evidente o quanto ela está sendo induzida na relação, manipulada a, inclusive, acreditar que foi ela que começou as investidas ao professor e não o contrário. Strane é odioso. Age como um verdadeiro predador, plantando a ideia de que Vanessa é diferente das outras, de que ela é mais madura que as meninas de sua idade e tem algo de especial. Mostra em suas fantasias sexuais o quanto ele é imundo e criminoso, infantilizando a aluna e se afastando dela conforme vai ficando mais velha, mais mulher, o que evidencia que o seu grande desejo não é por Vanessa e sim por meninas em idade escolar.


É impossível pensar em Minha Sombria Vanessa e não relacionar com os milhares de casos de abuso de menores que acontecem diariamente no Brasil. O mais triste disso tudo, é saber que a maioria dos abusadores não chega à justiça e a única pessoa que sofre com as consequências é a vítima. Não é normal um homem de 20, 30, 40 anos querer um relacionamento com uma menina de 15. Se você está passando por uma situação parecida ou conhece alguém que está, não se silencie, disque 100 e faça uma denúncia.

"É estranho saber que, toda vez que eu me lembrar de mim aos quinze anos, é nisso que vou pensar."


quinta-feira, 18 de março de 2021

O MARTELO DAS FEITICEIRAS, Andrei Fernandes

Editora: Penumbra Livros | Páginas: 556 | Ano: 2019 | 1ª Edição | Fantasia

O Martelo das Feiticeiras é o segundo livro da trilogia Demônios, Bruxas e Vagantes. Sucessor de Kalciferum e de autoria do brasileiro Andrei Fernandes, o livro retoma a narrativa em torno de Rafael, um humano que acaba por se envolver em um universo sobrenatural do qual nunca poderia imaginar a existência e se vê imerso em uma série de problemas desde que o demônio Cal o manipulara a assinar um contrato estabelecendo um vínculo entre eles.

O livro de número 2 nos apresenta um protagonista um tanto alheio aos acontecimentos do primeiro volume. Enquanto tenta levar uma vida normal na direção da empresa que herdara de um pai que nem sabia existir, o personagem passa por um processo de redescoberta do oculto e, no resgate dessas memórias, acaba por, mais uma vez, se ver usado para interesses demoníacos, além de enfrentar seus próprios desafios frente às três misteriosas ordálias que é condenado a encarar após acusações que sofre de uma organização de magistas encarregada de manter o equilíbrio. 

"Ao que parecia, Rafael era naquele momento, para todos os efeitos, um aprendiz de mago"

O início da obra me pegou demais. Lá pelos 30% eu estava extremamente imersa na narrativa de Andrei e empolgada com a evolução da escrita de um volume para o outro. Porém, daí para frente deu uma esfriada, empaquei e só consegui retomar o ritmo por volta da página 400. Talvez seja a presença menos frequente de Cal – que, francamente, rouba a cena no primeiro – ou a falta de conexão com Rafael, algo que foi muito rico em Kalciferum já que o personagem era muito “gente como a gente”, mas o que me desacelerou mesmo na leitura foi a falta de ação. No anterior, concluí a leitura com a cabeça girando de tantas cenas eletrizantes e isso me fez falta na sequência. Pelo meio, me peguei pensando que O Martelo das Feiticeiras teria sido muito mais bem aproveitado se dividido em dois. O autor traz muitas informações interessantes em torno da magia e não posso dizer que tenha sido mal explicado, apenas longo demais.

O desenvolvimento do protagonista, apesar das minhas considerações, foi excelente. Vemos um crescimento nítido no personagem e outras camadas são adicionadas além da imagem de humano arrastado para o sobrenatural. Gostei de como Andrei retratou seus ataques de pânico, mostrando que esses são, muitas vezes, mais assustadores que qualquer demônio. Os personagens secundários são menos desenvolvidos, no entanto. Gostaria de ter visto muito mais da jornada de Isabela e, também, do próprio Cal, que mostrou objetivos muito mais amplos do que deixara transparecer.

"Escolhas fortes são necessárias para conflitos perigosos. O que você espera acontecer? Vai levando em banho maria até se queimar?"

Ainda aguardo um terceiro volume na expectativa de ver a resolução e revelação de alguns plots que ficaram em aberto e que, a meu ver, têm muito potencial para o encerramento da trilogia.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Livro Físico vs Livro Digital: Por que escolher um, se posso ter os dois?


Depois de um tempo imersa no universo dos bookstagrams me peguei em uma reflexão que, para falar a verdade, retorna com frequência: por que as pessoas resistem tanto a certos avanços tecnológicos?

Desde os meus primórdios como leitora, percebo uma grande resistência de leitores em relação aos eBooks. No início, era muito compreensível, ler em pequenas telas, com as letras minúsculas e pouco adaptáveis dos PDFs era mesmo desconfortável e, ainda assim, devorei dezenas de livros por meio deles. Livros que eu não teria oportunidade de ler se não houvesse essa opção e, inclusive, livros que transformaram minha vida.

Era de se esperar que - assim como aconteceu com os discos de vinil se transformando em cds, em mp3, em arquivos no celular, em streamings – os livros logo ganhassem seu espaço no mundo digital e, sim, eles ganharam. Pouco a pouco os aplicativos de leitura foram se diversificando e evoluindo, ao ponto de termos dispositivos digitais exclusivos para este fim, tornando a leitura virtual muito mais confortável.

Por que, então, alguns leitores se recusam tanto a adotar e considerar válida a leitura digital?

Concordo que a sensação de ter um livro em mãos, o cheiro, o folhear de páginas é incomparável. No entanto, qualquer meio de ler mais não deveria ser algo para abraçarmos? Afinal, o livro não pode se resumir ao objeto. Aliás, o objeto ‘Livro’ é a parte menos relevante diante de todas as possibilidades que a leitura carrega.

Percebo que existem aquelas pessoas que ainda têm muita dificuldade de ler no celular e sabemos que o dispositivo Kindle e semelhantes não são lá muito acessíveis, porém, também encontro, dentre os resistentes, muitos que rejeitam o eBook pelo simples fato de serem digitais e, para completar, os atacam nas redes sociais como se estes fossem os inimigos do livro quando, verdadeiramente, são aliados.


Você não precisa amar, mas também não precisa fazer disso uma guerra.
Não é uma competição

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS E SUAS HISTÓRIAS INSPIRADORAS, Márcia Fernandes Ferreira (org.)


Editora: Proverbo | Páginas: 121 | 2020 | 1ª Edição | Biografias

“A vida não é um morango!”

De uns tempos para cá, tenho me atentado mais para a luta das mulheres em se encaixar na sociedade. Nessa luta, observamos o quanto ainda estamos distantes de alcançar uma igualdade e segurança que não são a nossa realidade. A cada dia um relato diferente de violência, a cada dia um relato de desespero que chega a minar um pouco a esperança de dias melhores.

“Aprendi que nada e nem ninguém pode me parar, a não ser eu mesma, quando não acredito em mim e me anulo ou deixo que outros definam o meu futuro.”

Essas Mulheres Maravilhosas e Suas Histórias Inspiradoras faz exatamente o caminho contrário. A Coletânea renova as esperanças reunindo relatos de mulheres que alcançaram seus objetivos apesar de todos os obstáculos que se interpuseram no caminho. A cada história, a esperança se renova, em narrativas que, mesmo que desconectadas, carregam uma mesma energia: a força e a determinação de vencer e não se deixar subjugar pelas dificuldades.

“Lembro bem das vezes que, após presenciar muitas brigas na noite anterior, eu ia para a escola tremendo, passava no banheiro antes, chorava, lavava o rosto e entrava para a sala de aula.”

É impressionante como em muitas das histórias contadas as dificuldades já se iniciam no berço. Não estamos falando em enfrentar o mundo, apenas, percebemos o quanto as famílias podem ser o primeiro desafio na vida de algumas pessoas. É muito fácil identificar, em diferentes graus, traços de nossas próprias histórias nessas narrativas.

“Por onde começar a reescrever a minha própria história?”

Por fim, a maior lição que carrego do livro é a consciência de que sempre podemos recomeçar e reescrever nossas histórias. Um momento ruim não pode e nem deve ditar toda a nossa trajetória. O caminho é árduo, mas a vida pode ser maravilhosa e, enquanto outras continuarem lutando, nunca estaremos sozinhas.

Nós somos muitas. “Sim, não somos uma só: somos esposas, mães, filhas, professoras, operadoras de caixa, secretárias, advogadas... Nós somos plurais, e muito parecidas.”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

SALEM, Stephen King

"Deus, dai-me SERENIDADE para aceitar o que não posso mudar, TENACIDADE para mudar o que posso e SORTE para não fazer muita merda."

Recentemente, adentrei no universo de Stephen King através da leitura de Joyland, que se tornou um dos meus livros favoritos de 2020. Para esse ano, minha meta era adicionar mais um livro do autor ao meu repertório literário, mas depois da experiência que foi a leitura de Salem, imagino que muito mais de King chegará às minhas prateleiras em breve.

Editora: SUMA | Páginas: 464 | 2007 | 1ª Edição | Suspense; terror; sobrenatural

Salem é mais do que a história de personagens centrais. Pode-se dizer que a grande protagonista é a própria cidade de ‘Salem’s Lot, onde conhecemos logo de início o escritor Ben Mears, que acabara de retornar e está buscando exorcizar seus próprios demônios e esse é o grande combustível para a primeira metade da história que acaba por girar em torno da Casa Marsten, um antigo casarão que assombrava as memórias e pesadelos de Ben. Toda essa questão da casa trouxe uma reflexão sobre o medo - e o amadurecimento destes - que dá um tom diferenciado à obra de King e, pessoalmente, eu mesma fui influenciada a questionar meus próprios medos e o que me tira o sono à noite.

“Acho que é relativamente fácil para as pessoas aceitarem coisas na telepatia e na parapsicologia, porque não lhes custa nada. Não lhes tira o sono à noite. Mas a ideia de que um homem pode morrer e deixar o mal como legado é muito mais perturbadora

Os outros personagens centrais também são cativantes. A mocinha que quer ir para a cidade grande e se livrar do controle dos pais, o professor que se mostra muito mais aberto ao sobrenatural do que imaginaria estar um dia e um médico que precisa renunciar à ciência para reconhecer o terror que passa a banhar ‘Salem’s Lot. Não posso esquecer, é claro, de Mark Petrie, um garotinho que brotou na história com uma coragem impressionante e que foi essencial para o desenrolar da luta contra os seres da noite. No entanto, o que mais me fez amar Salem foi a construção da cidade. Sei que esse é um dos motivos para muitas pessoas tirarem pontos na avaliação da obra, mas eu achei genial. O autor nos apresenta aos moradores e aos seus costumes, sua rotina. De maneira sutil, esses nomes vão sendo registrados pelo leitor e, quando algo acontece a alguém, é como ficar sabendo de uma notícia sobre algum conhecido com quem esbarramos por aí diariamente.

Algumas subtramas acabaram por ficar pouco desenvolvidas, porém, isso não me incomodou, uma vez que havia muitas coisas acontecendo e isso não alteraria nada na história afinal de contas. Também não há muito o que falar sobre o vilão. O grande terror de Salem está no pré confronto, quando pequenas situações aterrorizantes começam a acontecer e os personagens não sabem com o que estão lidando. Tudo o que vem depois da revelação do inimigo fica transitando na sensação de que a qualquer momento tudo pode vir abaixo (e era nessas horas que eu gritava para Ben desaparecer daquela cidade).

A escrita de King é muito cativante. Eu já havia citado a minha admiração por seu detalhismo que faz tudo se tornar muito visual sem ser descritivo demais. Após a leitura, descobri que esse é o segundo livro do autor e que ele é inspirado em o Drácula de Bram Stoker, talvez, por isso tantos elementos clássicos e conhecidos popularmente estejam presentes aqui. Descobri-me alguém que gosta de histórias de terror (apesar de não gostar dos filmes do gênero) e Stephen King já está entrando para a minha lista de autores favoritos.

Esteja preparado para ficar angustiado por boa parte das 464 páginas!
 
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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CASTELO DAS ÁGUAS, Juliana Cherni

"Era triste ouvir que um dinossauro criado em sua mente poderia entendê-la melhor que eu, mas eu aceitava, pois somente estando dentro de sua mente para saber o que ela realmente queria. Como ele foi criado por ela, ele teria as palavras certas. Já eu, nem sempre."


"As gêmeas Claire e Hazel McQueen tinham tudo para ter uma vida normal na linda cidade portuária de Silent Rocks. No entanto, as coisas fugiram um pouco da normalidade para sua família quando os amigos imaginários da infância de Hazel continuaram presentes à medida que ela crescia, levantando suspeitas em relação à sua sanidade mental.
Desgastes familiares, uma confusão em um evento importante, seguido pelo afastamento dos amigos, fez com que a família desse início a uma busca incansável por um diagnóstico.
Contudo, as coisas pioram quando Hazel descobre que a irmã vai embora da cidade para cursar biologia marinha e passa a acreditar piamente estar vivendo um romance com um tritão.
Claire precisa ter certeza de que a irmã ficará bem durante a sua ausência e vai contar com a ajuda de Alex, um amigo de infância que sempre foi apaixonado por Hazel."

Editora: Independente | Páginas: 176 | 2020 | 1ª Edição | Fantasia

Pensei muito antes de trazer a resenha dessa obra para o blog. Me faltavam - e ainda faltam - as palavras para descrever a sensibilidade de Juliana Cherni ao apresentar Claire e Hazel.

A narrativa de Cherni nos apresenta às gêmeas McQueen, inseridas em uma sociedade superficial e com uma mãe que de tudo fazia para se encaixar em meio às mulheres da alta sociedade, deixando as necessidades das filhas em segundo plano e negligenciando, principalmente, Hazel, que mostrava necessitar de uma atenção especial. Desde o início da narrativa , percebemos o quanto Claire é prejudicada nessa relação, uma vez que acaba por se tornar uma substituta para a mãe nos cuidados de Hazel e, dentre todos os acontecimentos constrangedores pelos quais passam, as gêmeas acabam por encarar o lado mais sujo da humanidade: o preconceito.

A obra é carregada de emoções e eu perdi a conta de quantas vezes cheguei às lágrimas. Observar tudo da perspectiva de Claire revela o amor gigantesco que ela sente pela irmã, além de nos conectar com seus sentimentos e perceber que, mesmo tendo que abrir mão de uma vida normal, ela faria tudo de novo e de novo para proteger sua gêmea. E não é que a vida delas não pudesse ser normal, poderiam facilmente conviver nos círculos sociais, cultivando amigos e aproveitando de tudo que Silent Rocks tinha para oferecer. O que as impedia era todo o julgamento que Hazel recebia, sendo tratada, frequentemente, como louca e recebendo diversos tipos de agressão pelo simples fato de ser diferente dos demais.

"Muitas vezes não nos damos conta do tempo que temos pela frente. Não faz ideia de quantas pessoas você irá conhecer e quantas ainda irão te decepcionar. Nunca mendigue atenção daqueles que não valem a pena, pois você sabe seu valor. Aqueles que conseguirem enxergar isso, farão de tudo para ficar ao seu lado."

Apesar de ser um livro de fantasia, esses elementos fantásticos estão, na maior parte do tempo, dentro da cabeça de Hazel. É emocionante e tocante a maneira que ela encontra de se refugiar dos ataques que sofre. Insisto em refletir se a vida das duas poderia ter sido diferente se elas tivessem sido acolhidas por todos como foram por alguns personagens que surgiram pelo meio do caminho. Gostaria que o final tivesse tomado um rumo diferente, no entanto, mas entendo a intenção da autora de abraçar o mundo de fantasia daqueles que são como Hazel. Castelo das Águas é a representação de como uma vida pode ser destruída pelo bullying e pelo preconceito, mas também pode ser definido como uma lição de abnegação, empatia e de verdadeiro amor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O CONTO DA AIA, Margaret Atwood

“Talvez eu não queira saber de verdade o que está acontecendo. Talvez eu prefira não ter conhecimento. Talvez não possa suportar o conhecimento. A Queda foi uma queda da inocência para o conhecimento.” 

Editora: Rocco | Páginas: 368 | 2017 | 1ª Edição | Distopia

É muito curioso ter tanto a dizer sobre O Conto da Aia e não saber como colocar isso em um post. Há algum tempo venho me engajado em consumir conteúdos que tragam uma reflexão em torno do papel da mulher na sociedade, mas nenhum bateu tão forte quanto essa leitura. O livro acompanha Offred/June, uma mulher que teve sua liberdade tirada de si, assim como todas as mulheres situadas em Gilead. O país passou por transformações devido à baixa natalidade e que tiveram como suporte dogmas religiosos extremistas. Dessa maneira, Offred se torna uma aia, a pessoa cuja única função social é dar à luz a um bebê que será entregue à família do comandante a que serve.

Entre reviravoltas e acontecimentos perturbadores, Atwood faz com que uma realidade completamente absurda se aproxime muito da nossa sociedade atual. Em pequenos diálogos e atos hediondos, percebemos o quanto a mulher ainda é vista por muitos como obrigada a ter filhos, ainda que não queira, porque "esse é o nosso destino biológico". Outros estereótipos, como as Marthas, estão presentes na obra. A mulher que deve cozinhar, a mulher que deve ser esposa, a mulher que deve dar frutos... Até mesmo as mulheres que se encontram em uma posição, mínima, de poder são o espelho da opressão e da silenciação feminina.

Adorei a maneira como a autora construiu essa narrativa. De início tudo parece descritivo demais, mas aos poucos vamos sendo envolvidos e nos adaptamos a ver as coisas pelos olhos de Offred de maneira que parece estarmos, de fato, acompanhando seus pensamentos. Essa foi a minha última leitura de 2020 e achei um ótimo fechamento de ano. Mesmo já tendo assistido a série, a leitura é sempre outra experiência.

Segue a Sinopse Oficial:

"O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. A Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar, depois que uma catástrofe nuclear tornou estéril um grande número de pessoas. E sem dúvida, ainda que vigiada dia e noite e ceifada em seus direitos mais básicos, o destino de uma aia ainda é melhor que o das não-mulheres, como são chamadas aquelas que não podem ter filhos, as homossexuais, viúvas e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde o nível de radiação é mortífero. Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente."

- NOLITE TE BASTARDES CARBORUNDORUM -